Crítica.
Se existe algo que admiro nas pessoas é o bom humor, um sinal claro de inteligência que se manifesta ainda mais quando esse bom humor se expressa sob a forma de fina ironia.
Não pretendo aqui fazer uma análise sobre as diferentes formas de humor e, tampouco, sobre o que causa riso a alguns, enquanto desagrada a outros. Basta dizer que existe o humor que é um elogio à inteligência das pessoas, da mesma forma que existe quem se divirta com o deboche, com o escracho e até mesmo com a desgraça alheia. Esse, penso, é o humor da inveja que revela muito sobre quem ri com ele.
Há fatos, contudo, que – pelo absurdo – despertam a veia humorística das pessoas num primeiro momento, seguidos, quase imediatamente, de aversão. Entre nós, brasileiros, isso é comum no mundo político do país. Nem é preciso grande esforço de memória para lembrar casos assim. Eu poderia citar declarações da Dilma como exemplo, mas imagino ser desnecessário, pois todos sabem quanto várias declarações dela nos fizeram rir. O lado triste disso, a grande ironia, é que ela foi eleita – e, pior, reeleita – pela maioria da população, ainda que a suspeita de fraude pairasse sobre a reeleição.
Apesar disso, coisa a que já nos acostumamos, rir de certas ocorrências deveria ser antes motivo de apreensão. Se não nos é possível evitar a eleição de certas pessoas que mais se prestam aos espetáculos de circos mambembes – coisa da democracia e do despreparo do eleitorado – há posições que, pela importância, deveriam ser revestidas da mais elevada dignidade e sobriedade, sob risco de perderam o necessário respeito e confiança no exercício de funções que exigem seriedade. Só que neste surpreendente Brasil, frequentemente isso não acontece.
Circula a notícia que o Ministro do STF Luiz Roberto Barroso efetuará, no próximo dia 30 de julho, um debate virtual com o controvertido youtuber Felipe Neto que se notabiliza pela irrelevância política, desconhecimento jurídico e dúbio apreço por crianças. Qual o tema do debate? Política e juventude. A notícia em si causou descrédito inicialmente, mas, depois de confirmada, provocou todo tipo de comentários jocosos e irônicos nas redes sociais.
Afinal, o que de positivo poderá resultar disso, a não ser a desmoralização do Ministro e da instituição que ele representa? Haveria entre eles pontos de convergência ideológica que justificasse tal debate? Seria Felipe Neto um legítimo interlocutor sobre o tema? E, principalmente, deveria um Ministro do STF descer ao nível da insignificância de Felipe Neto? Penso que Barroso deveria preservar a aura de respeitabilidade e seriedade que o cargo que ocupa exige.
Antecipo que seja qual for o desenvolvimento desse debate, acabará se tornando mais uma peça para alimentar – como disse certa vez Arnaldo Jabor – o pesadelo humorístico no letárgico sono em que grande parcela de nossa população se encontra.
Laerte A Ferraz para Vida Destra 28/07/2020
Sigam-me no Twitter! Vamos discutir o tema! @FerrazLaerte
Começo a pensar que o honrado Ministro é tão irrelevante quanto ao Youtuber
É o que tento dizer no artigo de forma subjacente.
Desculpe, mas preciso discordar! Pra mim, tanto Barroso quanto o FN estão no mesmo patamar, ambos insignificantes! O Barroso não precisa nem se preocupar em “desmoralizar” a instituição que representa, pois ela já está totalmente desmoralizada! Assim, parece que o debate vai se dar no
mesmo nível! É o que eu penso (enquanto ainda se pode pensar)!!
Barroso não é insignificante, pois está investido de poder.Penso que o termo mais adequado seria irrelevante (que também pode ser entendido como insignificante), isto é, sem mérito.
Parabéns por mais um excelente artigo, meu amigo!
Infelizmente fomos todos obrigados a aprender a rir das nossas mazelas! Por isso há tanto descrédito hoje em relação a tantas coisas importantes e que deveriam ser encaradas com seriedade!
!
Obrigado, amigo Sander.
Imagino o que Roberto Jefferson diria disso.