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A cultura das Máscaras – Totens e Tabus Modernos – Parte I

 Na Áustria o médico Dr. Peer Eifler, perdeu a licença para exercer a profissão por ser contra o uso compulsório das máscaras. Já o Tribunal de Justiça de Santa Catarina considerou a crítica do deputado estadual Jessé Lopes, sobre o uso compulsório de máscaras, como “crime contra a paz pública”.

As prefeituras de Blumenau, Rio de Janeiro e Goiânia propuseram multar pessoas que não estivessem usando máscaras.

E agora recentemente, a deputada Bia Kicis, foi investigada pelo Ministério Público Federal por também criticar o uso de máscaras.

Por que as máscaras viraram um tabu inquestionável? A superestimação e superproteção em torno das máscaras é razoável?

Até onde o uso das máscaras é questão profilática e científica? E qual o limite entre ciência e controle social em tudo isso?

É a partir dessa surrealidade em que estamos vivendo e, sobretudo, dos questionamentos elencados acima que pretendo traçar neste artigo um paralelo entre o uso compulsório das máscaras e o processo cultural dos tabus e totens nas culturas antigas.  Em um segundo momento (na parte 2) pretendo fazer alguns questionamentos tomando por base algumas evidências produzidas por estudos científicos e desconstruir alguns textos jornalísticos sobre a real eficácia e os limites do uso das máscaras como medida protetiva contra o coronavírus. As medidas político-sociais impostas por nossas autoridades têm a ver apenas com finalidades sanitárias ou tem algo a mais em jogo?

 

O SIMBOLISMO DAS MÁSCARAS

 

As máscaras sempre estiveram presentes na cultura humana por meio de cerimônias e rituais sagrados. Embora carregadas de simbologias religiosas, elas tinham diversas finalidades que, na maioria das vezes, era direcionada para a organização social. Elas não só representavam simbolicamente o bem ou o mal, o certo ou errado, a vida ou a morte, mas também eram artefatos protetores contra os maus espíritos ou guias para que o falecido pudesse encontrar a vida eterna. Por vezes, o emprego das máscaras em rituais religiosos vinha acompanhado de diversos tabus que deveriam ser preservados e seguidos à risca para que a pessoa tivesse equilíbrio com o mundo dos espíritos trazendo tranquilidade, paz e harmonia para a comunidade.

 

O PODER DOS TABUS

 

O conceito de tabu vem da antropologia e basicamente remete ao que é proibido em dada comunidade ou grupo social. Diz respeito a algo perigoso, impróprio, imundo, que não pode ser quebrado sem que o transgressor seja punido.  Já o totem é a representação, o símbolo sagrado de certo grupo social que tem a capacidade de protegê-los dos males e infortúnios. Ambos os conceitos são construídos pela alta abstração cultural, imaginária e mágica dos povos que atribuem sua origem, ordenança e eficácia ao mundo desconhecido ou do sagrado.

Nas antigas sociedades, a obediência aos tabus parte de convenções sociais e um certo padrão moral é imposto a toda a comunidade. Ao contrário da lógica racionalista, formal, que tem por base a verdade, isto é, proposições que correspondem aos fatos do mundo exterior, no mundo do tabu existe uma lógica própria que o sustenta. Ela parte da tradição, continuamente reforçada pela repetição por meio de símbolos, gestos mágicos e os discursos das autoridades carismáticas que possibilitam sua assimilação e até incorporação pelos indivíduos daquele grupo. A introjeção dessa cultura traz uma certa sensação de segurança ao grupo. Dentro deste mundo psicossocial, o tabu, portanto, deve ser inquestionável.

Embora, para a maioria, os rituais e tabus possam ser relegados a uma etapa civilizatória rústica e atrasada, na verdade eles aparecem como soluções para muitos problemas sociais como já foi dito.

Nesse sentido, penso que o uso da máscara, nesta pandemia, adquiriu o status ao mesmo tempo de totem e tabu, e segue o mesmo processo cultural.

É certo que as máscaras estiveram presentes em praticamente todas as pandemias mais recentes. Os asiáticos já estão acostumados a elas bem antes de 2020 e não é de agora que os profissionais da saúde as utilizam. Isso não é novidade alguma.

Entretanto, com a pandemia da COVID-19, inaugurou-se o que eu chamo de a cultura das máscaras. E, como toda cultura, não está isenta de mitos. Temos alguns poucos mitos urbanos em torno do uso das máscaras atualmente. O maior deles parece ser que o uso das máscaras, por si só, teria o poder quase mágico de proteger as pessoas. Uma verdadeira blindagem contra o vírus. Esta ideia, por incrível que pareça, virou uma “verdade” inquestionável, um pequeno costume em curto espaço de tempo. Esta nova cultura segue o mesmo processo antropológico de outras culturas antigas: o surgimento de uma demanda/problema entre o grupo; a inserção no grupo de costumes, gestos, objetos como reação a esta demanda/problema; a existência de autoridades que falam e deliberam pelo grupo reafirmando esses elementos; a criação de totens e tabus como elaboração final dos elementos reativos; a repetição do discurso que tem o objetivo de convencer o grupo da existência e importância dos tabus e as consequentes punições em resposta às possíveis transgressões.

 

MÁSCARAS COMO TOTENS MODERNOS

 

Acredito que temos aqui um ponto de contato analógico entre aquelas sociedades e a nossa pandemia: temos uma demanda/problema, a pandemia e o vírus; temos o costume e prática da utilização sazonal e esparsa das máscaras pela sociedade; há autoridades sanitárias e governamentais que legitimam e elevam a prática do uso das máscaras ao status de totem protetor de seus usuários. Em torno disso criou-se o tabu do não questionamento da eficácia das máscaras, e quem ousa questionar a palavra dos “xamãs” sanitários recebe sua devida punição. O contágio do vírus e a morte são as principais punições pela quebra do tabu. Há outras punições que podem ou não estar associadas a estas, tais como: ser tachado de negacionista; ter sua liberdade de expressão cerceada nas redes sociais; ser punido pela fiscalização governamental e até, em casos extremos, ter sua liberdade física restringida.

O tabu para ser atualizado deve ser sustentado pela repetição ad nauseam dos discursos midiáticos que reproduzem seletiva e constantemente a revelação das grandes autoridades e “especialistas” na área da saúde: “use máscara”.

Há dois elementos que subjazem à camada cultural dos tabus e dos totens: o medo e a ignorância. Ambos são expedientes capazes de convencer as pessoas de que a não obediência aos espíritos, aos rituais ou à tradição pode acarretar toda sorte de maldição sobre a vida do indivíduo.

O medo pode retirar o senso crítico das pessoas e fazer com que elas recorram à emoção ao invés da razão. Para vermos como isso funciona na prática dentro do contexto que estamos falando, é só olharmos o comportamento de algumas pessoas no dia a dia. Hoje não é difícil ver pessoas usando máscaras sozinhas dentro do carro com o vidro fechado, praticando exercício físico, andando na beira de rodovias e até brincando na piscina. Há aqueles que estão até utilizando duas ou três máscaras junto com protetor facial. Há casos de pessoas que literalmente se enveloparam com medo do contágio do vírus e aqueles que foram espancados dentro de coletivos por não estar usando máscaras.

Os dois elementos estão claramente presentes em atitudes assim.

O poder de criar sensação de segurança no indivíduo mostra o poder de convencimento do discurso dos “especialistas em ciência”, dos políticos e dos grandes meios de comunicação em relação ao uso das máscaras.

Durante a peste negra, os médicos desenvolveram um tipo de máscara em formato de cabeça de pássaro. Nos orifícios do bico eram colocadas ervas que serviam para filtrar o ar para que o médico não se contaminasse com a doença. É claro que isso não surtia efeito algum como proteção, mas a crença fornecia uma sensação de segurança aos seus usuários.

O convencimento do discurso dos antigos xamãs estava baseado na sua autoridade superior que, por sua vez, era retirada da tradição e da experiência do contato com o mundo do além. O além era o mundo acessível apenas pelos iniciados e principalmente pelas autoridades religiosas. Nele está o mundo encantado dos deuses e dos espíritos. Nas antigas culturas era comum a repetição constante do nome dos deuses, pois quem controlava o nome do deus controlava o próprio deus. Nossas autoridades pandêmicas também possuem um mundo além da compreensão das pessoas comuns – a ciência, ou pelo menos o nome dela, que é acessada apenas pelos iniciados.  Não é à toa que nessa pandemia se clamou muito pela palavra ciência. O ex-ministro da saúde, Mandetta, foi um dos seus mais árduos propagadores. O discurso “científico” é de fato poderoso, haja vista que a ciência se tornou um dos mitos modernos. É nela que reside toda autoridade do homem atual em desvendar os mistérios da vida. Ela faz as vezes dos oráculos das grandes religiões. Mas dentro da conjuntura dessa pandemia não se trata nem da posse da ciência em si, em toda a sua pureza. Atualmente o que importa é deter o poder do discurso científico apenas. Trata-se apenas do uso ideológico da ciência, pois quem controla o discurso científico controla o discurso público.

O controle do discurso público tem a finalidade de criar narrativas, e quando essas narrativas ganham a respeitabilidade pública é então introjetada no mundo psicossocial da maioria das pessoas praticamente sem questionamentos. Ora, o questionamento é um tipo de quebra de tabu, e quebrar tabus é perigoso e uma afronta à autoridade maior que emite a revelação, trazendo desequilíbrio ao meio social.

 

QUEBRANDO OS TABUS, DESAFIANDO OS XAMÃS

 

Mas penso que alguns tabus existem para serem quebrados. É necessário ter coragem, bom senso e espírito crítico. Foi assim que os antigos filósofos fizeram em relação aos mitos. E eles os quebraram com simples questionamentos, expondo suas incoerências intrínsecas e seus exageros. Nossas autoridades não querem que o totem da saúde, o paninho mágico, seja questionado. Mas precisamos fazê-lo em nome da verdade, colocando-o em seu devido lugar. Utilizaremos para isso a antiga maiêutica socrática: queremos fazer alguns questionamentos.

Portanto, na parte 2 deste artigo tratarei sobre o verdadeiro lugar e importância das máscaras, o que os mass media estão reverberando sobre elas e o que os estudos acadêmicos mostram. O uso compulsório e indiscriminado das máscaras tem base científica? Até lá!

 

 

Paulo Cristiano da Silva, para Vida Destra, 09/03/2021.
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Crédito da Imagem: Luiz Augusto @LuizJacoby

 

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Reginaldo Lopes
Reginaldo Lopes
3 anos atrás

Parabéns, precisamos quebrar os tabus.

É natural de São José do Rio Preto, casado, servidor público com formação em Ciências Sociais e pós-graduado em Ciências da Religião e Teologia.