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A derrocada da música no Brasil

Por Giovanni Sousa                                                                                                        @giovanniERN

 

Música e sociedade sempre mantiveram profundos laços de influência mútua, como uma via de mão dupla. Desde que o homem é homem, tem havido registros de música. Naturalmente, o ser humano observou os sons da natureza e percebeu que poderia reproduzi-los. Reconhecidamente como uma das formas mais eficientes de expressão e perpetuação da cultura, a música exerce uma importante função na construção da identidade de uma nação. Capaz de influenciar do indivíduo às grandes massas, a música ao longo do tempo conseguiu transcender diferenças étnicas, culturais e de faixa etária ao redor do globo.

Além de proporcionar um agradável estado de bem-estar, a música promove o desenvolvimento da mente, pois induz no indivíduo os mais diversos estímulos, sejam eles de ordem sensorial, motora ou cognitiva, e acaba moldando aspectos emocionais e comportamentais, de modo a auxiliar no desenvolvimento da personalidade, além de evocar momentos de reflexão e trazer senso de pertencimento e de propósito ao indivíduo, culminando com a apreciação e busca do que é virtuoso e belo.

No entanto, a música brasileira nunca esteve tão simplória, confinada em letras que abusam da pobreza de vocabulário e de poucos e recorrentes acordes nas composições. Os responsáveis por esse movimento são o rock nos anos 60, o rap nos anos 80 e a decadência cultural do país com o auge dos programas de auditório nos anos 90. É o que conclui o estudo “Análise da Música Brasileira”, de Leonardo Sales, um dos mais completos já publicados sobre o tema no Brasil e o primeiro a ir a fundo em questões harmônicas.

Segundo a pesquisa, baseada nos acervos dos sites Letras.com.br, com 102 mil letras e Cifras.com.br, com 44 mil cifras, a música brasileira foi brutalmente “simplificada” com a consolidação do rock na década de 1960 e com a popularização do rap na década de 1980, que maximizou a quantidade de palavras e diminuiu o número de acordes nas músicas. De acordo com Sales, isso causou uma mudança no perfil dos artistas, que hoje podem se lançar ao mercado sem saber tocar ou compor, mas apenas cantar.

Quando são tecidas críticas a determinados gêneros musicais, às músicas ou aos próprios artistas, os que apontam a decadência da música brasileira são prontamente tachados de arcaicos ou saudosistas. Há ainda os que defendem a tese de que é impossível dizer se uma música é boa ou ruim por considerarem ser uma questão de gosto pessoal e que, portanto, não cabe discussão.

A verdade é que há critérios objetivos capazes de apontar a derrocada da música ao se estabelecer uma comparação com o que já foi produzido na história da humanidade. Grandes músicos como o pianista Álvaro Siviero consideram que a música é ruim quando: apresenta pobreza harmônica, com poucos acordes; apresenta pobreza melódica, com poucas notas; possui letras repetitivas, sem riqueza gramatical e simplistas demais; possui cantores tecnicamente ruins, desafinados, despreparados e que fazem de si uma atração maior que a própria música; possuem conteúdo materialista e hedonista, focando na sensualidade, na injustiça e no crime; não contribuem para a elevação do virtuosismo do ser humano.

O professor Olavo de Carvalho, ao comentar acerca da decadência da música brasileira, recorda o que os gregos já diziam sobre essa arte: “Platão considerava a música como fundamental para a educação e formação da alma, em ordem a desenvolver o senso de harmonia […]”. Para Olavo, antes de se pensar em uma solução para a decadência da música brasileira, é preciso restaurar a língua portuguesa, uma vez que no Brasil, há um abismo entre a linguagem formal e a linguagem corrente. Se este problema gramatical e vocabular tão básico não for solucionado, como esperar que se produza boa música em terras tupiniquins?

O cerne da questão, no entanto, repousa sobre um fato ainda pouco observado e cada vez mais consolidado: atualmente a maioria das músicas não tem a intenção de tocar a alma do homem, sua função primordial.

 

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