Muito se discutiu sobre a polarização entre PT e Bolsonaro, como se isso fosse o fim da era dos embates de ideias. O que na verdade ocorreu é que a polarização serviu justamente para isso – descortinar o teatro para uma plateia incrédula e incauta. Se apenas olharmos de soslaio, perceberemos que grandes países, a exemplo dos EUA e o Reino Unido, a política é polarizada e tem produzidos embates ricos que brindaram a história no passado e no presente.
Ao observarmos como ocorre a discussão no Parlamento Britânico, que tem na polarização entre Whig Party (liberals/democratas) e Tory Party (conservadores), ou ainda nos EUA com seu Congresso formado em sua maioria por Republicanos e Democratas, e geralmente destes dois partidos sai o presidente da Democracia mais sólida do planeta, com sua Constituição que não tem um terço dos direitos prometidos no utópico artigo 5o da Constituição Brasileira, mas, ainda assim, garante aos seus nacionais direitos, sendo o principal deles a liberdade!
Quando nos voltamos para a nossa história, nos deparamos com os Saquaremas e Luzias que representavam os conservadores pro monarquia e os liberais que já visualizavam o florescer de uma possível República, com a descentralização do poder imperial e mais autonomia para as províncias. Tempos áureos de verdadeiros debates, com as mentes mais cativantes do Brasil Imperial.
A inteligência nacional, nunca se preparou para a polarização, pois é do embate direto entre dois polos, que se permite uma maior visualização do quadro posto. Desde a redemocratização, sempre houve um debate pulverizado que não expunha nenhuma ideia clara do que estava em jogo, ou que permeava o verdadeiro debate, pois este, era assistido e conduzido por uma elite que sempre ignorou os valores do cidadão mediano, alijando-o do jogo democrático, não permitindo o exercício de seu arbítrio no processo de escolha de seus mandatários que povoam o Congresso Nacional e Palácio do Planalto.
A maldita polarização assustou o establishment! Isso fez com que a classe intelectual diminuísse a sua ascensão sobre os bruzudangas. Três fatores contribuíram para o tal fenômeno. Primeiro, a Operação Lava Jato escancarou para o mundo que a utopia igualitária do lulopetismo, era simples cortina de fumaça produzidas nos Centros Universitários, Redações de Jornais, Blogs simpáticos ao Partido-Estado, alimentados com verbas oriundas de patrocínio estatal, enquanto a guilda saqueava o país, e tornava companheiros ricos da noite para o dia sem o menor pudor. Segundo, a alienação da elite intelectual que se enclausurou longe da realidade, das mais de 65 mil mortes/ano, e, ainda assim, ignoraram os fatores reais que produziram o atual estado de coisas. Se o debate é sobre as causas da violência que se tornou endêmica, a solução dos especialistas é mais direitos e garantias para os autores da chacina – afinal, eles são vítimas da sociedade, e, com isso surge declarações estapafúrdias como uma “filósofa” com nome de jabuti ver “lógica no assalto”. O pressuposto é tão racional, quanto ver lógica no estupro, porque a vítima usa salto 15 e minisaia de borracha. São declarações como essas que se alojaram no subconsciente do cidadão médio, que agora emerge na polarização, uma vez que essa escancara os anseios do ignorante que deixou de ser tutelado por uma elite ultraprogressista, que faz pouco de valores inalienáveis como, direito a vida, a liberdade, a propriedade – em que pese estarem estampados na Constituição, são solapados por um ativismo que beira a irresponsabilidade. Terceiro, as redes sociais emanciparam pessoas dos mais diversos estratos sociais, e com isso, fizeram surgir uma massa de milhares que convergiram para um espectro do polo que captou essa atmosfera sedenta por mudanças e alternância necessária. Essa convergência envergonhou a elite intelectual e a academia, que logo identificaram uma nação de fascistas, como resposta tresloucada por não saber que tiro foi esse que os atingiu, pois os expuseram e com isso demonstrou que essa classe falante sempre atuou contra esses anseios, pois, sempre foram o bunker da resistência a alternância e a mudança tão necessária para a consecução da democracia.
A polarização ao descerrar a cortina do espetáculo da democracia, mostraram reis nus com sua corte de artistas e mídia militante. Igual à obra Rei Lear de William Shakespeare, que em um de seus diálogos traz a indefectível sentença: “quando nascemos, choramos, por vir a este palco de tolos!” É com essa percepção, que os espectadores encararam as urnas, para pela primeira vez na história recente da democracia, decidir entre modelo de governo para o país, e a estatização da corrupção e a consequente aceitação do estelionato como forma de governança, em que pese os esforços de alguns setores do jornalismo provinciano, intelectuais e parte da classe artística defenderem uma ideologia, mesmo após haverem assaltado de forma sistemática o patrimônio público. É desse assalto que foram fomentadas ditaduras na América do Sul e África, sob a tutela do Foro de São Paulo que inicialmente tinham em Lula, Fidel Castro e Hugo Chaves, os seus maiores signatários. E, isso foi ignorado criminosamente pela mídia. O que se seguiu a isso, foi a ascensão dos amigos do rei para na forma de Campeões Nacionais, que não passaram de um engodo como tudo que foi praticado na era lulopetista, que se serviu de Petrobrás, BNDES, Fundos de Pensão e outras artimanhas de mesmo vulto.
Last but not least, surgiu nas últimas eleições a esbórnia do voto crítico. Essa jabuticaba produzida pelos iluminados, foi o tiro de misericórdia produzida pela polarização. E que provaram de uma vez por todas, que guardadas as devidas proporções, o país pela primeira vez conhece uma geração de emancipados, que não mais dependem dos formadores de opiniões e especialistas de coisa nenhuma. O famigerado voto crítico, é puro eufemismo para: “eu concordo com a corrupção generalizada”, e com a “Regulação Social da Mídia” – outro eufemismo chique para CENSURAR os meios de comunicação, e, principalmente, para silenciar todos os que PENSAM DIFERENTE DO PARTIDO-ESTADO. É disso que se trata o voto crítico! Qual a lógica, em reconduzir ao poder, um partido que corrompeu ao longo de dezesseis anos em níveis altamente tóxicos, grande parte das instituições que sustentam a democracia? O voto crítico é outra jabuticaba gestada nos laboratórios dos intelectuais orgânicos, que tentaram criar mais uma figura de linguagem para a posteridade e seus amantes desconstrutivistas.
Desde a redemocratização há um incenso que permeia o mito fundante da esquerda. E essa narrativa é que possibilitou, o êxito depois de longas três tentativas de ascensão ao poder do Barbudo vestido de Armani, que outrora assustava o Mercado, pois comia criancinhas. Foi a pulverização do debate que permitiu o ingresso do PT ao cargo máximo da República, por meio de uma narrativa impulsionada por artistas e intelectuais, que de certa forma, foram os tutores das massas que coroaram o metalúrgico, pobre de menino, filho do sertão, com a máscara do “Lulinha, paz e amor” e o jingle “Lula, lá” cantado por estrelas da Globo.
O momento histórico é singular. A polarização, tão culpada por alguns, é conditio sine qua non para o surgimento de heróis e mitos. E como diria João Camilo de Oliveira Torres em sua obra Interpretação da Realidade que afirma: “Uma das consequências desta situação de reconhecimento expresso, por parte do povo, da legitimidade e da prioridade da ação oficial, está na fé que o brasileiro médio deposita no governo. Um dos aspectos curiosos é revelado pelo insistente mito do herói salvador. Raro o brasileiro que não acredita em alguém que vai salvar o país. Ou, pelo menos, numa revolução salvadora – sempre se espera algo de uma ação política que será a definitiva realização de todas as aspirações coletivas”.
O que se deve ter em mente, que é próprio de nossa democracia essa cultura, pois de tempos em tempos surgem heróis para salvar a nação, primeiro Collor com sua postura de moço correto e impoluto, depois, Lula montado em seu jegue da humildade, sagrou-se milionário com sítios, apartamentos e muitos, mas muitos processos, e hoje perambula livre graças ao STF de Toffoli, Gilmar Mendes e Lewandowski, fizeram com que a alma mais pura deste país deixasse a carceragem da PF em Curitiba. Agora, surge o mito, que contra tudo e todos reacende o patriotismo e a esperança de um novo porvir. Só o tempo dirá o que vai ocorrer com o Capitão, e como o mesmo será lembrado pela história.
Assim, tem-se o nascimento de um novo ciclo, onde os brasileiros deram claras amostras de que em nenhum momento da era democrática, ou quiçá de sua história, houve um grau de politização tão agudo, quanto o demonstrado nas eleições de 2018 até o presente momento. A emancipação, ao que parece veio – agora resta saber aonde essa libertação nos conduzirá.
Natalino Oliveira, para Vida Destra, 22/6/2020.
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Nunca se falou tanto em política como nos dias atuais, hj na fila do banco com 8 estranhos ao meu lado, falávamos de política, e é esse novo comportamento do brasileiro que assusta os “reis e imperadores”, que estão vendo que todo o poder que tinham está sucumbindo pela força do dono do verdadeiro poder que é o povo.
Acho que o Capitão é fiel aos seus princípios em primeiríssimo lugar. A culpa de que o chamem de mito, não é dele e sim fruto de um povo indignado com tanto desmando e corrupção. Ele se elegeu com um objetivo: salvar o Brasil dos corruptos, especialmente aqueles políticos ligados ao PT. Se vai ser reeleito ou não, nesse momento não lhe importa. É um homem livre e corajoso que persegue incansavelmente o sonho de tornar o Brasil uma grande nação.
Excelente!!!