Uma reflexão para a comemoração do Dia da Árvore e entrada da Primavera.
Queimadas acontecem. Em alguns ecossistemas, como o Cerrado, por exemplo, acontecem espontaneamente em períodos de seca, pois algumas plantas desprendem um óleo altamente inflamável e basta uma faísca, uma fagulha, um raio para que a vegetação seca durante a estiagem de inverno inflame, queimando sem controle até que as chuvas de primavera apaguem naturalmente as chamas.
Esse é um fenômeno bem conhecido pelos povos do centro-oeste brasileiro e acontece agora como sempre aconteceu, desde tempos imemoriais. É algo natural e típico do bioma, pois algumas sementes necessitam do calor intenso para eclodirem, fazendo brotar novos rebentos. Por estranho que possa parecer, tais queimadas eliminam a vegetação morta, adubam o solo, fortalecem e regeneram o bioma. Não são poucas as plantas resistentes ao fogo, resultado de um processo evolutivo de milhões de anos e a fauna e flora dos biomas sujeitos às queimadas naturais estão adaptadas a tais ocorrências, delas se beneficiando. Isso é fato.
Tal fenômeno acontece em várias regiões do mundo e não apenas aqui no Brasil, no Cerrado, nos Campos, na Caatinga e na Amazônia, mas são típicos e reincidentes em regiões com ciclos de clima seco e quente, especialmente em florestas de coníferas, comuns no meio-oeste norte-americano ou como ocorre periodicamente na Austrália.
Vários fatores climáticos influenciam a intensidade e duração de tais queimadas A ausência de umidade, o calor excessivo e ventos são determinantes.
Por outro lado, existem as queimadas provocadas pelo homem, seja como forma de abrir espaço para a agricultura e pecuária e até mesmo de maneira preventiva a fim de eliminar vegetação rasteira e seca, impedindo queimadas de maiores dimensões de difícil controle. São técnicas conhecidas e usadas há milênios. A pressão humana por espaços para a produção de alimentos dizimou e continua dizimando milhares de hectares de florestas todos os anos. Temos visto isso acontecer com grande intensidade em nosso país, mas já aconteceu muito antes na maioria dos países europeus e nos EUA. Frequentemente, a maneira mais prática e usual de eliminar os resíduos desses desmatamentos, é a queimada.
É notório que produtores de açúcar e de álcool sempre se valeram das queimadas a fim de facilitar o corte da cana de açúcar. Segundo dizem, é o método mais prático e barato, além de proporcionar maior produtividade no corte da cana. Tal método vem sendo gradativamente substituído pela intensiva mecanização e em função das cada vez mais rigorosas restrições legais.
Existem também as queimadas provocadas intencional ou acidentalmente, sem propósitos econômicos ou preventivos. São muitas as situações.
Na categoria das queimadas acidentais, uma ponta de cigarro acesso jogada pela janela de um veículo numa estrada pode provocar queimadas de grandes proporções, num ato que tanto revela ignorância, quanto imprudência. É possível que a maioria das pessoas já tenha visto, pelo menos uma vez na vida, queimadas ao longo de estradas, nos períodos de seca. Outra causa comum de queimadas são as fogueiras acessas em acampamentos nas matas e abandonadas sem que se tenha o cuidado de extinguir todas as brasas. Nesses casos, basta uma lufada mais forte para que as brasas se espalhem pela mata, causando verdadeiros desastres.
Também é conhecida uma técnica de caça usada por indígenas – que, como aconteceu com a antropofagia, vem sendo abandonada com o tempo e o aculturamento dos nativos – que consiste em fazer uma espécie de cerca na mata em forma de funil para, em seguida, colocar fogo na boca desse funil e esperar os animais que fogem das chamas na ponta, abatendo-os. Essa técnica não é novidade para sertanistas no interior do país. Aliás, os próprios indígenas e grande parte dos pequenos agricultores usam a queimada para preparar o solo após as colheitas, especialmente de milho e mandioca (“coivara”). Afinal, a esses faltam recursos para implementos agrícolas que permitam arar e incorporar os resíduos vegetais ao solo.
Também é fato sabido que existem pessoas portadoras do transtorno mental conhecido por piromania. São pessoas fascinadas pelo fogo e que sentem prazer mórbido e compulsivo em atear fogo, em provocar incêndios. É um comportamento ilegal, coibido em nossa legislação pelo Art. 250 do Decreto nº 2.848 de 1940 (causar incêndio expondo a perigo a vida, integridade física ou o patrimônio de outrem) e, mais recentemente, pela Lei nº 9.605/98, que versa sobre crimes ambientais. Apesar disso a apuração e a punição dos infratores não é fácil, principalmente pelas dificuldades de fiscalização e comprovação pericial. São raras as autuações em flagrante, sendo mais comuns as decorrentes de denúncias de difícil comprovação. A maioria dos infratores – que não são poucos – acabam impunes.
Outra forma de incêndios criminosos que tem se tornado comum, especialmente no atual governo, é a de natureza política. Explico a tese:
A vastidão territorial brasileira e a imensidão de recursos naturais aqui existentes, desde muito, desperta a cobiça de outros países, muitos deles carentes de recursos naturais, seja em função da pobreza de solo, carência de recursos hídricos ou exaustão por intensa exploração. Para esses, parece justo que sejamos obrigados a partilhar o que legitima e historicamente nos pertence. Em relação a isso, e como justificativa, criou-se o mito de que a Amazônia representa o pulmão verde do mundo e, por isso, deve ser integralmente preservada. Tal falácia vem sendo repetida até tornar-se uma espécie de dogma no imaginário popular de lá e, inclusive, de cá. Por causa disso, o pendor imperialista de muitos se manifesta despudoradamente numa cobrança descabida pela preservação daquilo que, afirmam, é um patrimônio da humanidade que não sabemos ou temos condições de gerir. Só que estão menos preocupados com a preservação do que com a possibilidade de obter uma parte do desejado butim.
Com a eleição de Bolsonaro, um líder conservador e nacionalista, as esquerdas mundiais têm se manifestado com maior avidez em relação às críticas pelas políticas ambientalistas do nosso governo. Não apenas existe o desagrado da social democracia europeia com a eleição de um presidente de direita na “esquerdizada” América Latina, como se exacerba o temor de que o atual governo passe a ocupar efetivamente os cobiçados espaços de nosso território, frustrando as aspirações de um possível futuro acesso às nossas riquezas. E, para provar que as críticas que fazem têm fundamento, se valem de dados de desmatamento e queimadas como argumento de que Bolsonaro é desleixado com o “patrimônio da humanidade”. É exatamente aí que entram as queimadas políticas, quando opositores se valem do período de seca típico do inverno e, intencional e criminosamente, provocam ou estimulam queimadas em regiões sensíveis. Essa é uma afirmação de difícil de comprovação, mas será que há quem realmente duvide que seja verdadeira?
As esquerdas brasileiras – naturalmente “globalistas” e, por isso mesmo, entreguistas – fazem coro às aspirações internacionais sobre a Amazônia. E, juntamente com uma extrema-imprensa perniciosa, fazem parecer que jamais a situação das queimadas e dos desmatamentos esteve pior do que agora. Só que os dados oficiais do INPE desmentem categoricamente isso. Vejam o site:
http://queimadas.dgi.inpe.br/queimadas/portal-static/estatisticas_estados/
Obs: Dados de 2020 somente até o mês de junho.
Focos de queimadas – Brasil – Comparação agosto de 2010 e 2020
Caros leitores, Greta, Macron, Di Caprio e o Papa, entre outros, estão errados! Estão apenas fazendo o papel de falastrões por ignorância, concupiscência ou ideologia. O Brasil, o Pantanal e a Amazônia não estão em chamas como se apregoa aos brados. As queimadas apenas acontecem, como sempre aconteceram. Aliás, com exceção de alguns anos, as queimadas dos últimos dois anos estão dentro ou abaixo das médias históricas. A situação foi notadamente grave entre 2002 e 2008, período em que os atuais críticos estiveram silentes a esse respeito. Por que será?
Laerte A. Ferraz, para Vida Destra, 21/09/2.020.
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No brilhante artigo de @ferrazlaerte o Brasil em chamas, o que me desperta ojeriza é a de que estes países estrangeiros ou atores tem interesse pelo pulmão do mundo, mas nunca se preocuparam com o seu próprio umbigo.
Grato pelos comentários, Luiz Antonio.
Acordar e beber um café, com este primoroso artigo do Laerte Ferraz, é uma das melhores coisas. Parabéns por expor os fatos. Cadê o Greta, Papa, parlamento europeu, esquerdalhas e o Di Caprio???
Esses citados nada sabem sobre a realidade da Amazônia. São falastrões e apenas isso.
Os leitores da Revista Vida Destra se orgulham de um texto tão bem organizado. Certeiro! Parabéns, senhor Laerte Ferraz.
Receba o reconhecimento de um humilde professor.
Parabéns!
Orgulho sinto eu em ter leitores como você, caro Davidson.
Quem quiser saber mais sobre isso, procure se informar sobre a famosa “terra preta de índio”, resultante de sucessivas coivaras praticadas por eles. É um terra fértil e altamente produtiva, decorrente da incorporação do carvão vegetal ao solo, produzindo um adubo quase natural, mas essencialmente orgânico. Portanto, nem todas as queimadas são prejudiciais e algumas são necessárias.
Parabéns por mais um excelente artigo!
Obrigado, caríssimo amigo. Imagino que um pouco de informação nestes tempos de politicamente correto seja necessário. Abraços.