O segmento de carros de luxo passa longe de qualquer aperto econômico no Brasil e no mundo. Mesmo com a ligeira queda do mercado doméstico, em volumes, no ano passado, as montadoras que oferecem modelos premium seguem com vendas em alta e com aumento do preço médio vendido. Em 2023, os valores dos 10 carros mais caros do país superam R$ 1 milhão e a tendência é de aumento para o ano – ficaram de fora dessa lista os chamados “superesportivos” de luxo, de marcas como Ferrari, Lamborghini e
McLaren, entre outros, cujo volume é menor.
No primeiro trimestre deste ano (dados mais recentes), os emplacamentos de carros importados praticamente dobraram para 7.625 unidades na comparação anual, segundo dados da Abeifa. São modelos de grandes marcas que não são produzidos no país, dos britânicos da Jaguar Land Rover aos alemães da Porsche e aos suecos da Volvo, entre outros.
O modelo mais importado no período, por exemplo, foi o XC60 da Volvo, cujo preço de tabela está em R$ 400 mil na versão básica. O quinto modelo mais vendido fabricado em outro país foi o Porsche Macan, a partir de R$ 475 mil.
Também há crescimento de modelos de luxo fabricados no país. No caso da Audi, por exemplo, houve aumento de 45% nas vendas de janeiro a abril, segundo dados da Anfavea, para 1.819 unidades. O modelo de entrada é a versão sedã do A3, a partir de R$ 275 mil. No caso da BMW, o avanço foi menor, de 6,2% nas vendas, mas para um volume
maior, que chegou a 4.426 unidades. Os modelos mais em conta são o Série 1 e o Série 2 Gran Coupé, ambos a partir de R$ 308.950 na tabela.
“A demanda continua aquecida no segmento de carros premium e nunca deixou de estar”, disse o diretor de desenvolvimento de negócios da consultoria global especializada JATO Dynamics, Milad Kalume Neto.
Segundo o especialista, os preços dos carros das marcas premium subiram quase 100% nos últimos anos. O preço médio de modelos do segmento em 2019, período pré pandemia, era de R$ 265 mil. Em abril deste ano, esse valor era de R$ 510 mil, conforme levantamento da JATO, que é britânica. Um aumento da ordem de 92% em quatro anos.
Kalume observou que a pandemia da covid-19 impactou fortemente a indústria automotiva, diante das paralisações na produção com a falta de semicondutores e outros equipamentos. Ele explicou que os carros premium usam um número ainda maior de componente eletrônicos, algo que está ligado a tecnologias de conectividade, como direção autônoma e eficiência energética.
Além disso, o especialista apontou a desvalorização do real como um dos fatores que encareceram os automóveis de luxo: a esmagadora maioria dos modelos do segmento é importada.
Há outro fator importante para explicar o aumento de preços em dois dígitos ano após ano: a demanda resiliente e, em alguns casos, até mais aquecida, a despeito do cenário macro adverso.
“Verificamos na pandemia que a classe mais abastada não sofreu muito com os efeitos econômicos, tanto que a Porsche teve recorde de vendas no país em 2021 e 2022″, disse Kalume.
A grande maioria dos consumidores do segmento de luxo paga o carro à vista, segundo ele, o que significa que a elevação dos juros de financiamento impacta pouco a demanda. Em alguns casos, o cliente oferece o automóvel usado como entrada. “Poucos financiam esse tipo de veículo.”
Segundo Kalume, as montadoras que possuem modelos premium no seu portfólio estão conseguindo repassar preços em todas as faixas. Mesmo se houver diminuição no total dos emplacamentos em 2023, avaliou, as marcas devem ter estabilidade ou até crescimento de faturamento.
Entre as marcas com os modelos mais caros do mercado se destaca a Porsche, que vem apostando no potencial da operação brasileira após abrir uma subsidiária no país em 2015. Desde então, a montadora alemã de carros esportivos de luxo tem ganhado participação ano a ano.
Outras alemãs como a BMW, a Mercedes-Benz e a Audi vêm revezando posições no ranking de market share de modelos de luxo com a britânica Jaguar Land Rover.
*Esta notícia pode ser atualizada a qualquer momento
*Com informações de Bloomberg Línea
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