Tal como o livro “Uma Morte Anunciada” do colombiano Gabriel Garcia Marques, Cristina Kirchner e seu poste Fernandes venceram as eleições presidenciais na Argentina. Não pegou ninguém de surpresa; foi uma derrota de Macri mais que anunciada.
O que causa estranheza, até mais que surpresa, é o porquê isso aconteceu lá. Afinal os argentinos já experimentaram desse veneno e deveriam saber o que os espera para os próximos anos: corrupção, populismo e assistencialismo barato, além de generosas doses de comprovada incompetência.
Penso que há uma explicação: não foi o kirchnismo que venceu; foi a frouxidão de Macri que perdeu.
Macri, querendo ficar “bem na foto” com as esquerdas, fez um governo frouxo. Parece que não sabia que não adianta tentar agradar as esquerdas. Para esses, só importa que as esquerdas estejam no poder e um esquerdista pela metade não serve. Com isso, não fez as reformas necessárias, deixou de sanear as instituições ideologicamente contaminadas, enveredou perigosamente pelo populismo, evitou uma abordagem mais pragmática no relacionamento com possíveis parceiros mais à direita e permitiu que o sindicalismo peronista – que tanto encantou aos “hemanos” na década de 50 – continuasse atuando nos bastidores da política. Foram exatamente esses – os peronistas – que apoiaram Cristina e Alberto Fernandes. Deu no que deu: Macri não conseguiu arrumar os estragos dos governos anteriores, perdeu apoio dos que se decepcionaram e acabou jogando a presidência no colo das esquerdas. De novo.
Sem dúvida, isso terá reflexos em toda América Latina, especialmente quando Venezuela e Cuba fazem nova investida bolivariana, causando distúrbios no Chile, Peru e Equador. É o Foro de São Paulo que muitos acreditavam enfraquecido com a prisão de Lula, impeachment de Dilma e a eleição de Bolsonaro, atuando mais uma vez. Temos que reconhecer, os esquerdistas não desistem facilmente.
O sinal de mão “lula livre” feito por Fernandes ao comemorar sua eleição foi uma demonstração clara de que podemos esperar quatro anos de políticas hostis ao Brasil, por parte do governo argentino. E o fato de Bolsonaro se recusar – com justa razão – em cumprimentar Fernandes pela vitória, só reforça essa visão. Seremos afetados, especialmente quando se finaliza um amplo acordo entre a UE e o MERCOSUL além da Argentina ser considerada o terceiro mais importante parceiro comercial do Brasil. O horizonte se apresenta carregado de nuvens sombrias.
É evidente que a Argentina vai experimentar um longo período de agravamento das dificuldades pelas quais já passa, caminhando célere em direção a uma “venezualização”, pois falta fôlego financeiro para recuperação. Isso também é previsível. Desta vez, porém, não poderão contar com o dinheiro farto do BNDES despejado em anos recentes pelo lulopetismo naquele país. O calote é previsível, assim como foram os de Cuba e da Venezuela.
Os argentinos erraram mais uma vez. Reincidir no erro é considerado burrice. Mas, nós, por aqui, já erramos mais vezes que eles. Será que aprendemos? Por via das dúvidas, não vou chorar pela Argentina, mas me esforçar para que não tenhamos que chorar pelo Brasil.
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