Popularmente chamado de gato de luz, o roubo de energia elétrica está na origem dos problemas financeiros da Light, que entrou com pedido de recuperação judicial nesta sexta-feira (12) e compreende dividas de aproximadamente R$ 11 bilhões.
Isso acontece porque mais da metade da energia (53,98%) distribuída pela companhia é furtada — e o custo disso não pode ser repassado integralmente para os consumidores.
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) estabelece uma meta regulatória de perdas, e qualquer percentual acima disso precisa ser absorvido pelo caixa das companhias.
No caso da Light — que atende 31 dos 92 municípios do Rio de Janeiro, incluindo a capital e a região metropolitana —, esse limite é de 35,28%. Assim, é a distribuidora que arca com a diferença.
Aumentar o preço da conta de luz também seria difícil, especialmente em momentos de retração econômica. Para se ter ideia, em 10 anos, as perdas custaram R$ 9,947 bilhões para os consumidores da Light. Já, quando se considera todas as empresas, o valor para as pessoas salta para R$ 44,617 bilhões.
Segundo especialistas, a saída requer uma ação que depende de um trabalho conjunto com governos, em especial, no caso do Rio de Janeiro, que tem áreas dominadas por quadrilhas que impedem o trabalho de desativar os mecanismos de furto. Tanto é que a iniciativa mais recente da Light de blindagem de rede terá menos investimentos, porque nem ela é capaz de inibir ameaças.
“A caixa é blindada mas é simples sequestrar uma equipe da Light e mandar eles abrirem a caixa. É só mostrar os fuzis”, disse uma fonte próxima da empresa ao Valor, na condição de anonimato, por causa da sensibilidade do tema.
Quem são os ladrões de energia?
Em 2017, a Light disse mais da metade dos furtos de energia estava concentrada nas classes A, B e C, de acordo com reportagem do jornal O Globo.
Do total de consumidores, 52% de toda a perda de energia ficavam em áreas de classe média e alta, enquanto os demais 48% estavam concentrados em área de risco — locais que a empresa, geralmente, não consegue ter acesso para fiscalização.
Expectativas para investidores
O pedido de recuperação judicial da Light resultou em perdas — mesmo que momentâneas — para muitos investidores e credores. As ações da companhia caíram 17,2% nesta sexta-feira (12), afetando o portfólio de mais de 13 mil pessoas físicas, de acordo com os números mais recentes da B3.
Da mesma forma, a desvalorização das debêntures impactou 33 mil detentores dos títulos, segundo o Valor apurou — sem contar os efeitos sobre a carteira de milhões de cotistas que aplicam em fundos com exposição à empresa.
São as incertezas acerca do futuro da distribuidora de energia que provocam essa volatilidade. Afinal, há quem passe a ver os papéis como uma “batata quente” e queira se desfazer deles. O problema é encontrar compradores em meio ao aumento dos riscos, o que acaba tendo impacto direto no preço e na liquidez.
No caso das ações, há ainda outro fator: a bolsa brasileira não aceita que empresas em recuperação judicial façam parte de seus índices, como o Ibovespa. Isso significa que os papéis da Light vão continuar sendo negociados na B3, mas fora das listas de referência. Assim, fundos que replicam os índices precisam se desfazer dos ativos.
Ou seja, investidores e credores podem esperar volatilidade, até acender uma luz no fim do túnel.
*Esta notícia pode ser atualizada a qualquer momento
*Com informações do Valor Econômico
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