Fazendo jus à razão social, paralela à narrativa predominante, o documentário reconstrói a verdade do Brasil pré e pós-regime.
Para obtermos algum objetivo prático a partir da ótica individual, é imprescindível, antes, que tenhamos discernimento sobre o que nos é contado, refutado ou reiterado. No entanto, quando só interessa à didática narrar os fatos que convêm aos seus precursores, ficamos entre uma faca de dois gumes, não havendo uma outra versão, uma outra fonte, uma outra verdade ou divergência. Ensejado justamente pelo direito de conhecer ambos os lados, poder entendê-los e contá-los, sem que hajam comprometimentos ideológicos ou demagogos, o grupo independente, Brasil Paralelo, censurado nos telões, já pôde aproximar 3 milhões de pessoas da cronologia omitida pelo poderio de Gramsci no desenvolvimento tupiniquim. E o fez através das telinhas do Youtube, plataforma alternativa àquelas de liberdades privadas.
Conhecida a ideia dos produtores e redatores, falemos do efeito: a excepcionalidade do documentário, alheio às linguagens padrões e sustentada pelo acervo inesgotável de provas documentais, foge ao ordenamento marxista e expõe fundamental conhecimento sobre aquilo que não foi estabelecido ao passo da inclinação canhota dos nossos métodos educacionais; num primeiro momento, de maneira sutil e dinâmica, conhecemos a situação e o clímax à época do pré-regime, quando as reticências da Guerra Fria deram abertura para o controle universal entre EUA e URSS e possibilitaram suas assimilações econômicas e políticas-sociais. É importante notarmos que esta divisão possuía, a princípio, simbologias históricas de governo e Estado. Enquanto o governo americano fazia-se liberal e capitalista, obedecendo às Instituições religiosas e aos direitos civis, o Estado soviético permeava-se acima do cidadão na violenta imposição comunista.
Despiciendas as morais religiosas, os padrões familiares e a defesa do livre mercado, o comunismo atraiu sua verve arraigada ao continente americano, trazendo opositores do capital: emerge-se a figura de Fidel Castro. Neste risco iminente de implementação dos regimes genocidas já fatídicos em outrora, o Brasil – em suas dimensões continentais – e com o estado fragilizado, parecia alvo fácil. Dada essa possibilidade, intensificam os movimentos em apoio à restauração da ordem e justiça no país, considerando as relações hedonistas do Congresso com o povo e o enfraquecimento brasileiro perante ao anseio popular. Surge, portanto, o militarismo como solução imediata diante da inaptidão presidencialista. Em 31 de Março de 1964, sob apoio do povo, da imprensa, da cultura local e do parlamento, o REGIME MILITAR é iniciado.
É evidente, leitores, que o intuito embrionário deste regime não pautava-se em características ditatoriais ou de censura, pois, em sua essência, fomentava a brasilidade tal qual sua valorização e patriotismo. Apesar disso, ocorreram equívocos posteriores ao longínquo 1964, cometidos em justificativa aos contra-ataques dos grupos terroristas de esquerda, que, por suas vezes, objetivavam a disseminação e introdução do seu desgoverno antidemocrático. Essas ações, no entanto, validadas por golpes constitucionais, configuraram e consolidaram o paradigma de que a majoritária parcela dos brasileiros estava contra os militares, o que é indeferido pelo próprio pensamento popular a respeito da ocasião.
De fato, o saldo vigente das conseguintes do período – compreendido entre 1964 e 1985 – são contrastados pela mesmice entre “Direita x Esquerda”. Acontece que o regime militar não tem simbiose com a prática direitista e nem o contorna. Porém, a esquerda, esta sim, blindada pelo sucesso de sua estratégia cultural, caracterizava as brutalidades decorrentes do pré-regime, do seu andamento e da sua posterioridade. A premissa do documentário procura desmitificar as vítimas de uma suposta ditadura, ao apresentá-las, em caráter probatório, como guerrilheiros sanguinários sem propósitos democráticos ou pacíficos.
Por fim, o sucesso do trabalho está diretamente ligado ao seu roteiro imparcial, à veracidade dos depoentes e ao tratamento isento no tomar de partido culminado por radicalistas. A intenção é o que impressionou e a ela a verdade fez-se inerente. Curvam-se, neste momento, os historiadores tendenciosos e as utopias medíocres, afinal, a juventude agora ganha um material insigne de virtude histórica, sem interferência acadêmica ou deturpação jornalística.
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