O Presidente francês, Emmanuel Macron, numa tentativa de melar o acordo entre a União Européia e o MERCOSUL, efetuou uma série de comentários públicos a respeito de Bolsonaro, sobre as queimadas na Amazônia e sobre a política ambiental brasileira. Baixou o nível ao chamar o Presidente brasileiro de mentiroso e, não satisfeito com isso, referiu-se à Amazônia como “nossa casa”, sugerindo até uma intervenção no território brasileiro e, de última hora, pautou o tema para ser discutido na reunião do G 7, realizada no último final de semana em Biarritz, na França.
Especula-se que as razões de Macron para efetuar tais ataques foram as insatisfações dos produtores franceses com um acordo (UE-Mercosul) que pode, na opinião deles, prejudicar seus negócios e dificultar a comercialização de seus produtos no mercado europeu, em função da concorrência de produtos sul-americanos, especialmente os brasileiros. O receio não é descabido, diga-se de passagem. Com a queda de barreiras protecionistas, das barreiras sanitárias e sem os subsídios que o governo francês oferece, os preços mais competitivos dos produtos brasileiros devem se impor e os produtores de lá enfrentarão tempos difíceis.
Macron, sensível à chiadeira do importante segmento de eleitores, quis dar um tiro certeiro nesse acordo e, valendo-se da recente polêmica em torno de dados divulgados pelo INPE e questionados por Bolsonaro sobre queimadas na Amazônia, tentou internacionalizar a questão.
A extrema-imprensa nacional e internacional atuou como caixa de ressonância, amplificando as denúncias de Macron. Afinal, o que poderia ser mais importante do que o “pulmão do Mundo” estar sendo consumido em chamas em função de políticas complacentes com a destruição ambiental?
As esquerdas, daqui e de lá, se mobilizaram em oposição ao conservador Bolsonaro. Protestos surgiram: artistas se manifestaram; na Semana do Clima da América Latina e Caribe, realizada em Salvador, Bahia, não se falou de outra coisa; Antonio Guterres, Secretário Geral da ONU, declarou sua profunda preocupação com a “importante fonte de oxigênio e biodiversidade”; a sede da Embaixada brasileira em Londres foi pichada por “ambientalistas”; e a comoção ampla, geral e irrestrita tomou conta da imprensa e das Redes Sociais. Não se falou de outra coisa e até o Papa manifestou sua consternação com a ameaça ao “pulmão vital do planeta”.
É claro que, na defensiva, Bolsonaro tratou de apresentar explicações que não adiantaram muito em função da enxurrada de acusações da esquerda, em verdadeira (e costumeira) histeria, chegando a sugerir – não sem razão – que havia ações política e até criminosa nas queimadas, além do fato de que as políticas ambientalistas brasileiras serem uma das mais rigorosas do Mundo. Dos mais variados lugares surgiram “especialistas em ambientalismo” com afirmações veementes – reais ou imaginárias – desmentindo dados da NASA que mostravam que os focos de incêndios, comuns no período de estiagem na Amazônia, estavam dentro ou ligeiramente abaixo da média histórica para o período. Também não adiantou a divulgação de dados revisados do INPE mostrando a mesma coisa, assim como não adiantou o esclarecimento feito por verdadeiros ambientalistas que a floresta amazônica não é o pulmão do Mundo, papel destinado às algas marinhas. Para a esquerda e extrema imprensa brasileira e internacional, o filão oferecido por Macron era bom demais para não ser explorado ao limite do desgaste presidencial.
A cruzada ambientalista de Macron ignorou solenemente as diversas queimadas que ocorriam simultaneamente pelo Mundo. Ignorou incêndios na Bolívia, no Paraguai, em Angola, no Congo e na taiga siberiana, alguns deles em proporções bem mais dilatadas do que os que ocorriam no Brasil. Óbvio. O alvo de Macron não era a proteção do “pulmão verde do Mundo”, mas o acordo costurado por Bolsonaro no G 20 de junho passado entre UE e o MERCOSUL, como já dito.
Enfim, tudo indicava que Macron iria levar a melhor em seu intento, mesmo que tivesse sido mais que deselegante ao insultar o Presidente Bolsonaro e ridiculamente exagerado ao sugerir intervenção internacional na Amazônia brasileira, aparentemente ignorando que nove países, incluindo a própria França com sua colônia sul americana, integram a Amazônia, e que tal sugestão provocava indignação nos meios militares e na maioria da população brasileira. De imediato, Macron recebeu o apoio de Justin Trudeau do Canadá, da Irlanda e de Angela Merkel da Alemanha. Até mesmo a Finlândia chegou a sugerir boicote europeu à importação de carne brasileira e, em retaliação, e tanto a Alemanha quanto a Noruega bloquearam repasses de verbas para a Amazônia.
Por aqui a imprensa, em sua maioria, deu ampla divulgação às acusações de Macron e o tema Amazônia em chamas foi pauta constante dos jornais e noticiários televisivos. O tom alarmista das matérias e comentários amplificou a gravidade da situação, com dedos acusadores apontando para um único responsável: Bolsonaro. Até mesmo um fenômeno climático natural se transformou em fumaça das queimadas da floresta amazônica sobre São Paulo, ganhando manchetes nos principais periódicos, por mais ridícula que tal hipótese fosse. Nas Redes Sociais de Internet, os debates foram acalorados entre acusadores e defensores de Bolsonaro. Não foram poucos os que revelaram indignação com Macron e muitos outros apelaram para o deboche ao se referirem a ele.
Enquanto isso, porém, aos poucos o bom senso de diversos países do G 7 e fora dele começou a falar mais alto. Nisso foi vital a intervenção de Donald Trump que prestou irrestrita solidariedade ao Presidente brasileiro, sendo seguido pela Itália, Japão, Espanha, China, Israel e Reino Unido. Aliás, Boris Johnson foi direto ao ponto ao afirmar que Macron estava usando politicamente a questão das queimadas tentando prejudicar o Brasil, assim como o ministro das Relações Exteriores e da Inteligência de Israel, Israel Katz, ao afirmar que o momento era de ajuda e não de crítica. Por fim, Merkel também se rendeu ao bom senso.
A reunião do G 7 terminou com Macron isolado, em evidente descrédito, e Bolsonaro prestigiado internacionalmente, aceitando as ofertas de ajuda, especialmente de Israel, após haver feito pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão, quando reforçou seu compromisso com o meio-ambiente e anunciou medidas de combate às queimadas na Amazônia.
Esse desfecho deveria ter arrefecido a chama da sanha persecutória da imprensa, certo? Só que não. Basta uma rápida leitura nos sites dos principais jornais para perceber que o assunto incêndio na floresta vai continuar em pauta enquanto houver alguma lenha para queimar. Articulistas e blogueiros – de esquerda em sua maioria – continuam batendo na tecla do ambientalismo, invariavelmente de forma crítica ao governo. Falas ácidas e pessoais de Macron em relação à Bolsonaro continuam ganhando destacadas manchetes. E, na falta de coisa melhor, o noticiário do momento é que Bolsonaro teria concordado bem humorado com um forista de Internet, que mostrou em uma postagem que Michelle, a Primeira Dama, é mais bonita que Brigitte, esposa do Presidente francês. Alguma dúvida sobre isso?
Laerte A. Ferraz, 27 de agosto de 2019, para VidaDestra
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