Chicago, às margens do lago Michigan, em Illinois, é uma das maiores cidades dos EUA e também uma das mais frias no inverno. Foi lá, durante os anos 20 e parte dos anos 30 do século passado que se instalou um dos ramos mais brutais do crime organizado – a Máfia – sob o comando do facínora Al Capone, também conhecido como Scarface.
Naqueles tempos, Chicago era um antro de criminalidade e corrupção. Prefeito, juízes, políticos, funcionários públicos e grande parte da força policial, estavam na lista de pagamentos dos mafiosos, cujos maiores problemas não eram com a Lei pela exploração do jogo, da prostituição e do contrabando de bebidas, estimulado pela famosa Lei Seca; mas com as disputas por territórios, tal como acontece hoje no Brasil entre facções do crime organizado nos morros cariocas.
Quem não se lembra do massacre do Dia de São Valentim, ocorrido em 14 de fevereiro de 1929, quando sete gângsters foram assassinados, evento que deu a Al Capone o controle quase total da cidade de Chicago?
O crime jamais foi elucidado e disso Al Capone escapou impune. Tudo foi tramado durante a noite, no antro de reunião dos facínoras mafiosos e se algo chegou a ser apurado, foi cuidadosamente abafado pelas investigações contaminadas pela corrupção. Alphonse Capone foi preso em 1930 por sonegação de impostos e condenado em 1931 a 11 anos de prisão.
Parece incrível que um criminoso contumaz, com uma longa carreira à frente do crime organizado, incluindo a suspeita de inúmeros assassinatos, alguns pelas próprias mãos, tenha sido preso por aquilo que, aqui no Brasil, não chega a assustar nenhuma autoridade ou político corrupto.
Quem acabou com a carreira criminosa de Al Capone foi um agente do Tesouro, chamado Eliot Ness. Sério, austero e incorruptível, criou uma força-tarefa que recebeu o nome de “Os Intocáveis”. Foram combatidos tanto pelos gângsters quanto pelas autoridades corruptas, mas por estarem vinculados ao Tesouro Norte-Americano, tiveram o apoio Federal que precisavam para concluir sua missão. Após o final da Lei Seca, Ness foi nomeado Secretário de Segurança Pública em Cleveland, Ohio. Realizou um grande trabalho e é reconhecido como herói nacional nos EUA.
Lembrei dessa história porque ao saber que a Câmara dos Deputados, ao se reunirem na calada da noite do último dia 03 de setembro e votarem a PL 11021 que os favorece com recursos públicos para a contratação de contadores e advogados, de acordo com os interesses dos respectivos Partidos Políticos, a imagem que me veio à mente foi a de gângsters reunidos num antro e tramando mais um crime. É claro que neste caso, tramaram justamente que uma imoralidade absurda deixasse de se constituir em crime.
Na seqüência, a história de Al Capone me veio à memória e não foi possível deixar de lembrar-me também de Eliot Ness, aquele que lutou bravamente contra o crime e a corrupção em sua época. Será que haverá alguém aqui no Brasil que possa fazer o trabalho de limpeza que Ness fez na Chicago, apesar dos Juízes, políticos e outras autoridades corrompidas pelos esquemas de dinheiro fácil, cargos e outras benesses?
Peço que olhem a foto de Eliot Ness, neste artigo, com atenção e digam: com quem ele se parece mais? Com Moro ou com Bolsonaro?
Laerte A. Ferraz – para Vide Destra 04/09/2019