Análise/opinião
Amigos têm me perguntado: “Afinal, Moro fica ou não? Será que ele chegará até o final do mandato de Bolsonaro? Qual sua opinião?”. A resposta não me parece simples, daí este artigo.
Acompanhem comigo:
A escolha de Moro para o Ministério da Justiça, na qualidade de “super-Ministro”, foi um dos maiores acertos de Bolsonaro na composição de sua equipe de trabalho. Mais até do que qualquer outro nome do atual governo, Moro é quase uma unanimidade nacional e alguém que realmente agrega valor ao atual governo. E digo “quase unanimidade” porque, é claro, contra ele ou sua permanência no governo estão os opositores, os temerosos das malhas da Justiça, os corruptos e aqueles que tudo fazem e muito torcem para que o Bolsonaro fracasse. Afinal, se esse governo tiver sucesso, como está tendo apesar dos esforços contra, a reeleição é quase certa em 2022, caso Bolsonaro decida concorrer.
Mas isso depende muito da permanência de Moro no governo. Não são poucos os que dizem que sem ele o apoio ao governo de Bolsonaro enfraquece e até mesmo acaba ou que apenas apóiam o Presidente por causa de Moro. Faz sentido, pois depois da Lava Jato, Moro se transformou num herói que conseguiu desbaratar grande parte da corrupção institucionalizada pelo lulopetismo, numa onda de moralização como jamais se viu na história deste país. Por isso, com justa razão, ele é idolatrado, mas também odiado por muitos. Em relação a ele, não há meio termo.
Como era previsível – e certamente Moro sabia disso – o cargo é espinhento; a pressão deve ser quase insuportável, exigindo um equilíbrio emocional e um nível de resiliência que poucos têm. Definitivamente, não é fácil para nenhum deles dos primeiros escalões do governo. Só que Moro, pelo que representa, é alvo prioritário, assim como são os filhos de Bolsonaro, por muitos considerados como uma espécie de “calcanhar de Aquiles” do Presidente.
Moro é especialmente odiado pelas esquerdas, principalmente por petistas e psolistas. Entendo. Foi Moro quem conseguiu colocar na prisão o maior larápio deste país, além de revelar as entranhas nauseabundas de um esquema de corrupção quase inimaginável. E isso não apenas destruiu a imagem de um mitômano falacioso, como decretou o encerramento de sua nefasta influência política. Coisa imperdoável para a esquerdopatia alucinada, grande parte dela aquartelada nas redações da extrema-imprensa.
Nada disso, porém, parece ter afetado o resoluto Sergio Moro. Imagino que ele deve ter tido momentos de profunda contrariedade, mas em momento algum se deixou abalar.
Não foram poucas as vezes que os ressentidos falsearam informações sobre crises de relacionamento entre Moro e Bolsonaro. E a última dessas crises diz respeito à possível troca no cargo de Diretor Geral da Polícia Federal, cargo hoje ocupado por uma pessoa da mais estrita confiança de Moro.
Muito se especulou na última quinta-feira, dia 23/04, a esse respeito, com ênfase numa ameaça de demissão que Moro teria feito, caso Maurício Valeixo fosse defenestrado. Tal hipótese foi desmentida pelo próprio Valeixo que alegou cansaço e desgaste pessoal como razões para deixar o cargo, livre de qualquer pressão política, questão sobre a qual teria conversado com o Ministro Moro no início deste ano. Na imprensa e nas Redes Sociais de Internet abundou a circulação de informações que foram desde afirmações categóricas, até amplos desmentidos oficias e oficiosos. As mais diferentes teses foram levantadas para confirmar e negar as notícias que circularam.
Entre aqueles que aliviados garantiam que Moro permaneceria no cargo e os esperançosos revanchistas que afiançavam que não, ficou uma certeza: a possível saída de Moro é mais que simples boato; tem preocupante fundamentação. Mais um imbróglio que tem que ser resolvido por Bolsonaro e seus assessores, independente das razões que lhe deram origem, sempre lembrando que é da competência do Presidente efetuar tal tipo de troca na direção geral da Polícia Federal.
Moro tem boas – excelentes – razões para permanecer no cargo. Ficar, para ele, pode tanto representar uma almejada posição no STF em futuro relativamente próximo, como uma ascensão política invejável para qualquer cargo eletivo que um dia deseje concorrer. Contudo, pouco se sabe a respeito de quais seriam os valores e princípios que poderiam levá-lo a abrir mão de um futuro promissor, após haver desistido de uma brilhante carreira de Magistrado. E é exatamente isso que Bolsonaro deverá considerar para vencer essa crise que, ao que tudo indica, é real.
Pelo exposto, caríssimos leitores, não sou capaz de imaginar se Moro fica ou sai. Espero sinceramente que prevaleça o bom senso entre as partes e que ele e Bolsonaro demonstrem a indispensável flexibilidade para encontrar consenso. O que posso garantir é que a saída dele seria um desastre para o governo, uma frustração para suas aspirações pessoais e uma enorme decepção para quem espera ver o sucesso deste governo. Afora isso, só posso garantir que uma eventual saída de Moro não seria boa para ninguém, a não ser para oposicionistas. Só nos resta acompanhar e torcer.
Laerte A Ferraz para Vida Destra 24/04/2020
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Excelente artigo de análise, Ferraz. Concordo plenamente contigo. Parabéns pela clareza e objetividade. Bom dia !
Excelente. Mais claro impossível.
Mais uma vez certeiro!
Infelizmente Moro saiu.
Estou arrasada e decepcionada com o descumprimento de Bolsonaro com o que foi acordado por ocasião do convite para o Ministério da justiça.
Simplificando, misturar interesses políticos na casa do Ministério da justiça, não tem o menor cabimento.
#MoroTemRazao