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Narrativas: A Criação do Mal – Parte I

Outro dia eu olhava meu perfil no Twitter, quando me deparei com uma notícia que me deixou inquieto. A matéria, publicada no site de extrema-esquerda Folha de São Paulo, trazia o seguinte título: “Bisneta de Monteiro Lobato quer apagar o racismo de sua obra com novas edições”. Antes mesmo de ler a notícia, me questionei sobre o porquê uma descendente direta do escritor, famoso pelas histórias do “Sítio do Pica-Pau Amarelo”, iria querer destruir sua obra, ao invés de lutar pela sua preservação. Afinal, os livros de Monteiro Lobato são mais que simples contos infanto-juvenis, mas também são registros históricos e culturais do Brasil de um século atrás. Assim, a Folha nem se deu ao trabalho de tentar esconder do quê se tratava essa supressão de referências racistas. Na verdade, a questão girava em torno das narrativas que dominam o debate global progressista. 

Cléo Monteiro Lobato não tem a intenção de reescrever a História, até porque o que passou não se pode apagar. Ela quer mudar a narrativa, e isso ficou muito evidente quando ela disse ser “tudo para entrar em sintonia com as críticas de que o escritor paulista teria maculado a inocência das aventuras da boneca Emília ao incutir concepções preconceituosas e estereotipadas em seus livros”. Em outro trecho, Cléo disse querer “uma versão atualizada, cujo teor fosse compatível com os valores sociais contemporâneos”. Em outras palavras, com a agenda da esquerda. Mudar a narrativa conta outra história, mergulhada em ideologias, e não valores. A iniciativa da bisneta do criador de algumas das obras mais célebres da literatura brasileira tinha o mesmo objetivo daqueles que, em um passado não muito distante, queimaram livros, e de outros que na Europa e nos EUA se glorificam ao destruir monumentos públicos que, em uma decisão monocrática, consideram “racista”, ignorando qualquer outra importância no âmbito do contexto social, histórico e cultural. É essa criação de narrativas que sustenta o plano político dos progressistas no Brasil e no mundo.

No entanto, antes de dar continuidade, é preciso deixar bem claro o conceito legal de “racismo”. O termo possui uma definição que por si só seria objeto de um artigo científico inteiro, mas vem sendo sistematicamente utilizado de forma genérica e incorreta por toda a militância de esquerda, endossada pelos veículos de comunicação que insistem em empregá-la propositalmente da forma errada. Resumidamente, o direito brasileiro (Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989) criminaliza 17 condutas como impedir a entrada em estabelecimentos comerciais ou negar atendimento e ainda praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Guarde com atenção essas palavras. Será importante mais adiante.

Feita esta observação, permita-me, caro leitor, a outro questionamento: o que quis dizer Cléo Monteiro Lobato ao se referir a adaptar a obra do seu bisavô aos “valores sociais contemporâneos”? Caso você não saiba, “A Menina do Narizinho Arrebitado”, obra que a bisneta do escritor, inicialmente, deseja intervir, completa cem anos neste mês de dezembro. Então, qual era o contexto sócio-histórico brasileiro de 1920? Basicamente vivíamos o final da Primeira República (1889 – 1930), um período marcado por mudanças de costumes e pela formação do povo tal qual conhecemos. Nessa época ocorreu uma forte migração do campo para a cidade, fruto da industrialização. Outro problema era a alocação dos escravos recém-libertos e sem perspectiva no seu espaço social. 

Com o crescimento dos centros urbanos, cresceu junto a necessidade por moradia e trabalho. As pessoas se amontoavam em vilarejos e cortiços, e problemas começaram a aparecer: comportamentos, disciplina, ética nas relações interpessoais, rotina laboral, exploração do trabalho, doenças, carência de procedimentos e de infraestrutura sanitária, etc. Tudo isso obrigou o povo a se adaptar muito rapidamente (ou não). 

Cléo Monteiro Lobato deseja, assim, varrer para debaixo do tapete os problemas sociais que forjaram a evolução do conjunto do regramento social e das leis que reordenaram a sociedade da época de modo a trilhar o caminho que chega até agora. Por exemplo, a lei trabalhista. Ela regula a relação entre patrão e empregado. Essa legislação só existe hoje porque os problemas passados fizeram o legislador refletir para estabelecer de forma justa as obrigações e tutelar o direito de ambas as partes. Se obteve ou não sucesso nessa empreitada, é outra discussão. Resumindo: o que nossos antepassados viveram foi etapa essencial e necessária para alcançarmos o nível situacional atual, bem como aquilo que vivemos possui a mesma função em relação ao futuro desta mesma sociedade.

A intenção do intelectual, político, professor, advogado, artista, jornalista e outras classes influentes do progressismo – a própria burguesia que dizem combater – é alimentar a narrativa para manter a chama acesa dos bons e velhos antagonismos sociais, uma modinha criada naquele mesmo tempo, mas revivida atualmente dentro de alguns nichos. A narrativa criada por eles após anos afincos de aparelhamento do sistema e da estrutura do Brasil é direcionada para contar uma nova história e, tanto no caso da bisneta de Monteiro Lobato, quanto na destruição de monumentos públicos, para fomentar divisões. Assim, torna-se mais fácil a conquista de objetivos difusos e a perpetuação do poder, descontextualizando o passado para reescrever o presente. 

Continua…

 

Por Diogo Marques, para Vida Destra, 11/01/2021.
Vamos discutir o Tema! Sigam-me no Twitter @DMarques1981

 

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6 COMMENTS

  1. Exuberante art. de @DMarques1981 s/a 1a.parte da narrativa do mal patrocinada p/ bisneta de Monteiro Lobato ao querer reescrever a obra, adaptando aos tempos atuais. Só pode ter titica não cabeça. Imagina se a moda pega? Será que Capitu traiu ou não Bentinho,na nova versão do tataraneto de M.Assis?

  2. Além de querer mudar nossas vidas, fazendo revolução, os progressistas, ainda querem reescrever nossa história!
    Parabéns, pelo ótimo artigo!

  3. As narrativas e o fatos …. Agora a história não poderá ser descrita??
    Essa ideologia do politicamente correto e a voisa mais errada que já vi.

  4. Se não é, deveria ser: criminoso alterar uma obra! Ser neta do autor, não lhe dá o direito de alterar as criações dele. Aliás, só agrava a violação porque, se feita por um familiar, antes do desrespeito à obra, há o desrespeito ao parente – pior, nesse caso – à memória dele! Os progressistas/esquerdistas/globalistas acham msm que, se mudarem algumas palavras, vão mudar o que se passou na época em que os livros foram escritos? Acham que podem varrer a História para debaixo do tapete? Claro que não! Eles sabem que esse tipo de coisa funciona para agradar as mentes já distorcidas e é mais uma tentativa de influenciar aquelas que pretendem distorcer.

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