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O IMPERDOÁVEL ERRO DE MORO

Muitos de meus amigos e amigas, especialmente os do ambiente virtual, não conseguem aceitar a ideia de que Moro agiu com sordidez em sua desonrosa saída do Ministério da Justiça. Compreendo perfeitamente isso. Deve ser realmente difícil para quem passou a idolatrar aquele Juiz – até então desconhecido, oriundo do interior do Paraná, fazendo supor uma origem simples, um homem do povo – que durante os anos dos julgamentos da Lava Jato sempre aparecia como íntegro; um cavalheiro jovem e bem apessoado, de fala mansa, gestos modestos e comedidos, fiel cumpridor das Leis, defensor de princípios sólidos, mas rigoroso em suas decisões judiciais. Foi fácil para nós gostarmos dele, como pessoa e como Magistrado.

O Brasil todo, com exceção dos esquerdistas, torceu para que Sérgio Moro realizasse o sonho quase inalcançável de, finalmente, colocar os corruptos que tanto saquearam e desgraçaram o Brasil, atrás das grandes. Ele conseguiu esse feito, transformando-se num ícone da correção, num símbolo da verdadeira Justiça com que sempre sonhamos.

Acompanhamos cheios de ansiedade, mas também esperançosos, cada etapa dos julgamentos, cada sentença, e desejamos em nosso âmago que Moro vencesse os desafios que a enorme tarefa lhe impunha. E comemoramos o desfecho de vários julgamentos como se fosse uma vitória nossa, de cada um de nós brasileiros que amam este país.

É muito difícil que agora, assim de repente, a gente se veja perante a contingência de ter que rever a imagem que construímos com nossa razão e emoções. Não é fácil mudar um hábito, especialmente quando baseado em emoções; não é fácil aceitarmos que um ídolo possa ser humano e que possa ter falhas; não é concebível que Moro seja um vil e desleal traidor. Nos custa acreditar que esse verdadeiro baluarte da dignidade seja capaz de qualquer gesto, qualquer ato que contrarie aquilo que passamos a acreditar com verdadeira devoção. Não, definitivamente, se Moro agiu como agiu é porque devem existir razões muito fortes, coisas que ainda não sabemos e que talvez jamais venhamos saber, mas que o justificarão plenamente. É isso, então. Mas… Será?

Ao chamar Moro para responder pelo Ministério da Justiça, Bolsonaro realizou outra aspiração nossa. Quem poderia ser melhor que ele nesse cargo? Assim, a renúncia dele nos atingiu com o impacto de um duro golpe e, entre tristes e perplexos, passamos a tentar entender o que nos parecia ser um desastre. O que aconteceu? O que houve de verdade para que a simples troca de um Diretor da Polícia Federal, algo que deveria ser visto como ato normal, ainda que não corriqueiro ou desejável, pudesse conduzir a isso? Teria sido um ponto de honra do qual o íntegro Moro não podia recuar? Seria uma demonstração de suprema lealdade a um subordinado de confiança? Ou haveria algo mais?

Sim, pensaram os fãs de Moro, deve haver algo mais. Afinal, Bolsonaro é meio tosco; por ser militar deve ser autoritário, não escolhe bem as palavras que profere e isso desgasta qualquer relacionamento, principalmente para quem se acostumou a não dar satisfações sobre seus atos, após apresentar decisões e sentenças.

Além disso, desde a época da campanha, Bolsonaro foi apontado como um homofóbico racista, sexista, machista e grosseiro, não muito favorecido intelectualmente e defensor de torturadores. Por mais que ele tenha demonstrado que não é nada disso, a não ser meio tosco, é quase certo que toda campanha desfechada por opositores contra Bolsonaro tenha deixado um resquício de dúvida na mente de cada um de nós. Dessa forma, ficou fácil pensarmos que a responsabilidade maior pela quase impensável e profundamente indesejável renúncia de Moro, é de Bolsonaro.

Foi assim que tudo teve origem? Estou convicto que não.

Ao renunciar ao seu cargo de Ministro da Justiça, Moro dardejou acusações contra Bolsonaro, o Presidente eleito por nós e que alijou do poder o famigerado e nefasto lulopetismo e, com isso, ele foi guindado à condição de mito no imaginário popular. Uma insuspeitada disputa pública entre eles seria um embate entre gigantes. E tenho certeza que ambos sabiam e sabem disso, pois ambos despertaram paixões. Só que Moro foi desleal ao fazer isso, pois atacou e acusou diretamente ao Presidente, se fazendo de vítima, e, com amenas palavras estudadas, num roteiro bem escrito – o que revela planejamento e ensaio – não se furtou em criticar e acusar, reforçando aspectos da imagem negativa que a oposição tentou criar de Bolsonaro. Vejo isso como algo cuidadosamente estudado e antecipado, sem qualquer improviso e com o claro objetivo de atingir a imagem do Presidente, reforçando sua responsabilidade pela decisão da renúncia. Foram acusações desprovidas de provas, mas largamente aproveitadas por opositores e uma imprensa hostil.

De forma subjacente, a fala de Moro – que pouco explicou – revelou uma personalidade vaidosa, revanchista e traiçoeira, além de uma mal disfarçada intenção de iniciar na carreira política. Ele poderia ter saído de maneira honrada, alegando razões pessoais, de foro íntimo; teria sido elegante e teria minimizado o impacto de sua renúncia ao cargo. Mas ele optou por gerar uma crise institucional que terá desdobramentos, exatamente quando o país precisa de tranquilidade para enfrentar a presente crise na saúde e a crise na economia que já se vislumbra.

Para mim, amigos leitores, como eu já havia dito em artigo anterior, o ato de Moro foi traiçoeiro e revelou uma insuspeitada soberba e falta de patriotismo. Ele traiu não apenas Bolsonaro, mas ao Brasil; deu um pé nas costas de todos nós. O que Moro fez é imperdoável.

Laerte A. Ferraz, para Vida Destra, 27/04/2020.

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Advogado, jornalista e publicitário. Escritor, articulista, palestrante e consultor empresarial em Marketing e Comunicação