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SIM, O PT ESTÁ EM ALTA… ENTROPIA!

O Partido dos Trabalhadores, após sucessivos e terríveis escândalos, de conhecimento público, envolvendo alguns de seus principais nomes, incluindo seu líder máximo, Luis Inácio Lula da Silva, preso desde o ano passado em Curitiba, por diversos crimes diga-se de passagem, está em acelerado processo de decomposição, ou seja: o partido encontra-se em elevado grau de entropia.

Entropia é o estado de aumento da desordem em um sistema, com o passar do tempo. Esse é o conceito da chamada Segunda Lei da Termodinâmica da Física. Todos os sistemas materiais, biológicos ou sociais estão submetidos a esta lei. Nascem, crescem em complexidade e organização até um ponto máximo. A seguir, tais sistemas entram em declínio, de forma lenta ou acelerada, o que vai depender do surgimento de fatores externos e internos não previstos. Por fim, morrem, desaparecem ou se extinguem. Isso acontece com planetas, estrelas, animais, plantas, seres humanos, civilizações, impérios e também com partidos políticos. Não sabemos exatamente qual o grau de entropia interna do PT, ou quanto tempo ainda levará até conhecer o estágio final, que terminará com sua extinção ou desaparecimento. O que se constata, pelos dados da realidade, é que enfrenta alto nível de degradação. Isso é uma constatação irretorquível.

A sigla sofreu, nos últimos anos, imenso desgaste junto à opinião pública. Fundadores ilustres do partido, como Hélio Bicudo, Francisco Weffort, Frei Betto, Paulo de Tarso Vasconcelos e Francisco Oliveira (falecido em julho deste ano), saíram do partido denunciando sua grande corrupção e desvio de seus princípios fundadores. Inúmeros filiados menos ilustres, mas com bom nível de capital intelectual, também fizeram o mesmo, indo para outras agremiações, pelo mesmo motivo. Hoje se dizem envergonhados de um dia terem pertencido ao PT. Esse processo de debandada dessa massa crítica de pensadores indica, de forma inequívoca, o forte processo entrópico a que está submetida atualmente a legenda.

O PT, desde sua fundação, buscou refletir uma imagem de resistência ao status quo do estamento burocrático, apresentando-se, junto à opinião pública, como opção eleitoral válida. Isso ocorreu, por exemplo, na sua recusa em participar do Colégio Eleitoral que levaria Tancredo Neves a ser eleito presidente, em vitória esmagadora contra Paulo Maluf, em 1985. Era a fundação da chamada Nova República, após 20 anos de regime militar. A imagem combativa do partido, que se dizia defensor de novos ideais na vida pública, angariou a simpatia de multidões. A postura intransigente de defensor de uma nova ordem na arena política, antítese do establishment, foi aprofundada com a campanha pela Ética na Política lançada no início da década de 90, e habilmente comandada por José Dirceu, principalmente, Jose Genoíno e outros, que faziam parte da tropa de choque parlamentar do PT, a qual teve atuação de destaque, em CPIs, no Congresso Nacional, no combate aos desmandos contra o erário público e à corrupção em geral.

Na verdade, o partido estava usando esse expediente para ganhar mais visibilidade junto à população brasileira, naquela época já intolerante com a corrupção reinante. O discurso de ética na política atraiu muita gente para o PT, que confiou cegamente nessa proposta. A estratégia de ocupação de espaços, seguindo as diretrizes de Antônio Gramsci, estava sendo aplicada pelos “intelectuais orgânicos”, ligados ao petismo, principalmente com a ajuda de suas bases nas universidades, escolas, sindicatos, igrejas, editoras e imprensa.  A instalação do Governo Paralelo, pelo PT, logo após a derrota de Lula nas eleições de 1989, para Fernando Collor, deu mais musculatura ao discurso de resistência do partido. E esse discurso foi favorecido e potencializado com o retumbante naufrágio político, administrativo, econômico, ético e moral do governo Collor, que foi apeado do poder, pelo processo de impeachment, com o PT liderando o movimento. À primeira vista, parecia que a legenda e seu timoneiro maior, Lula, estavam cada vez mais próximos de conquistar o governo federal. Os petistas já haviam conquistado várias prefeituras no país, algumas delas em cidades importantes, incluindo capitais, como Porto Alegre, e eleito inúmeros vereadores, deputados estaduais, federais e alguns senadores.

No entanto, o sucesso, a partir de julho de 1994, do Plano Real, que foi rechaçado pelo PT, com FHC como ministro da fazenda, e o imenso prestígio que este obteve com a derrota da hiperinflação, produziram dois resultados políticos imediatos: a) capacitaram o candidato tucano a vencer, com folga, já no primeiro turno, duas eleições presidenciais seguidas, em 1994 e em 1998, e b) colaram a pecha de radicalismo intransigente no PT e em Lula, que perdeu aqueles dois pleitos para FHC.

Escaldado pelo fama de radicalismo, o PT resolveu amenizar o discurso extremista e apresentar Lula, em 2002, como “Lulinha Paz e Amor”. Seu candidato a vice, José Alencar, nome respeitado no meio empresarial, trouxe um grande aporte de capital político e econômico, que ajudou Lula a vencer, assim como FHC já o fizera antes, duas eleições presidenciais seguidas, em 2002 e 2006.

O fato é que o discurso de combate à corrupção foi um engenhoso expediente tático do PT, urdido de forma bastante hábil, para alcançar seu objetivo estratégico maior: conquistar a cobiçada cereja de bolo do poder no Brasil, a presidência da República. Essa caça aos corruptos, brandida como arma letal, pelo partido, não foi nenhuma novidade, pois tal tática havia sido adotada em outros lugares do mundo, em outras épocas, como na União Soviética e na China, com os famosos expurgos de “corruptos”. A “Guerra à Corrupção”, mera cortina de fumaça, esconde, invariavelmente, nesses casos, dois objetivos dos estrategistas das esquerdas: se livrar de adversários indesejados, à esquerda e à direita, e reforçar o poder de influência e controle que os partidos de esquerda detém sobre a sociedade, favorecendo principalmente os “grandes líderes” desses partidos. No caso da URSS, Stalin foi um hábil manipulador dessas campanhas de expurgos. Na China, Mao Zedong, o “Grande Timoneiro”, foi o grande beneficiado.  No caso do PT, Lula foi quem mais ganhou com esse expediente. Anos depois, por ironia do destino, o ex-metalúrgico viria a provar do seu próprio veneno e ser preso por crimes de corrupção, assim como outros integrantes do partido, como José Dirceu.

Alcançado o objetivo de conquista da presidência da república, o PT deu azo à implementação de seu plano de permanência de pelo menos 20 anos ininterruptos no poder em nível federal. O aparelhamento das instituições foi acelerado. A corrupção se disseminou, com o Mensalão e o Petrolão. O relativo bom desempenho da economia, nos anos 2000, com Lula na presidência durante oito anos consecutivos, garantiu a eleição de Dilma em 2010. Mas a partir daí, com uma presidente que angariou a fama de ser centralizadora, autocrática e despreparada,  a legitimidade que o partido havia conquistado junto ao eleitorado, obtida a duras penas, foi perdida. Isso ocorreu a  partir de uma série de medidas desastrosas adotadas na economia, entre elas a mais famosa e deletéria de todas: a Nova Matriz Econômica. Esta política representou, na prática, a explosão de gastos do governo com subsídios e crédito farto de bancos públicos, destruindo os pilares que garantiam um mínimo de racionalidade econômica, principalmente mandando o superávit primário para o espaço, acelerando o aumento da dívida pública. A estupidez foi tão grande que se recorreu à queda forçada de juros. Isto é: para curar a febre do paciente, a solução, apresentada como grande novidade, foi quebrar o termômetro. Com tantas loucuras cometidas contra a economia e a boa fé popular, o impeachment foi apenas questão de tempo para a Dilma. Como sinal dos tempos e da elevada entropia sofrida pelo PT, um dos autores do impeachment, da então presidente da república,  foi ninguém menos que um dos ex luminares petistas: o consagrado jurista Hélio Bicudo.

Diante do exposto, o que se conclui é que, talvez, a maior armadilha para o PT foi querer derrubar o famigerado establishment vigente, para fazer a sua revolução cantada em verso e prosa desde à década de 1980. No entanto, com “Lula lá” no governo federal, o partido se integrou de corpo e alma ao establishment e lançou uma corrupção turbinada, 2.0. Com o PT no poder, a degradação das instituições, no Brasil, ganhou nova roupagem e alcançou uma escala entrópica nunca antes vista na história do país, e talvez mundial. De varejo local, a corrupção passou a acontecer no atacadão, chegando ao ponto de se tornar transnacional, desviando dinheiro do BNDES para garantir a eleição de governos amigos. Triste e melancólico fim para quem um dia se apresentou como baluarte na defesa da Ética na Política nacional.

Lívio Oliveira, para Vida Destra, 16/09/2019.

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Lívio Luiz Soares de Oliveira. Economista, analista pesquisador, articulista do Vida Destra