Depois de quatro anos e meio, Rodrigo Maia deixa a presidência da Câmara dos Deputados. Sua primeira eleição para o cargo foi em mandato-tampão, de pouco mais de seis meses, após a renúncia de Eduardo Cunha (2016). Sem discutir méritos legais, nota-se que ele teve apoio de parlamentares de duas legislaturas distintas (2015-2018 e 2019-2022) para reeleições constitucionalmente contestáveis.
Ao longo desses mandatos, suas posturas foram se alterando. Inicialmente se comportava como amiguinho de todos e pisava em ovos num terreno minado. Sem qualquer capacidade de liderança, mas bom articulador de interesses escusos, foi se tornando mais arrogante e autoritário na medida do exercício do poder de pressão e de intimidação que o cargo lhe proporcionava.
Após a eleição de Bolsonaro, passou a agir como primeiro-ministro e se tornou totalmente hostil ao Presidente e muitos de seus ministros, aos quais passou a criticar, constantemente.
À exceção da aprovação da Reforma da Previdência e de algumas Medidas Provisórias iniciais, travou toda a pauta das votações na Câmara e nada mais foi aprovado em 2019 e 2020. As alegações sempre foram a falta de articulação do Governo. Falácia. Narrativa apoiada pela mídia para reforçar a campanha de destruição da imagem presidencial.
Em seu último mandato (2019-2020), Maia passou a ser um grande coordenador das ações contra o Executivo junto ao STF e ao Senado, além de receber, logicamente, grande atenção da imprensa que potencializava os conflitos perante a opinião pública.
Mas, como um deputado com uns 60 mil votos, genro e filho de políticos em decadência – Moreira Franco e César Maia – poderia se tornar uma estrela de primeira grandeza no cenário brasileiro?
Seria ele um fenômeno político adormecido, não notado por falta de oportunidades de atuação?
IMPOSSÍVEL.
Quem nasce lagartixa, não vira nem lagarto, quanto mais jacaré.
No sistema cleptocrático em que vivemos, é obvio que Rodrigo Maia foi uma tartaruga que colocaram em cima da árvore, pois lá não seria capaz de subir sozinho.
Ele não era o grande chefe da oligarquia parlamentar, mas o advogado dela. Ele coordenava suas demandas e angariava apoio junto ao STF e ao Senado para inviabilizar o Governo.
Mas, inviabilizar por quê?
Por não aceitar o rompimento do presidente Bolsonaro com o presidencialismo de coalização, o loteamento de cargos, que provocou a abstinência corruptiva.
São 15hs30min de 1º de fevereiro de 2021. Estou escrevendo este artigo e a eleição da Presidência da Câmara ainda não ocorreu. Mas, a imprensa, com muito pesar, parece já reconhecer que Arthur Lira – segundo ela, o candidato de Bolsonaro – já está eleito. Para minha abordagem, o resultado não fará diferença.
A questão fulcral aqui é que já se nota uma certa empolgação por parte do Governo e aliados quanto à possibilidade de destravamento da agenda de reformas com a saída do grande vilão Nhonhô Botafogo.
Acho difícil.
Rodrigo Maia não inventou o Presidencialismo de Coalizão e obrigou os demais a praticá-lo. Ele era apenas um adepto fanático, como a maioria dos congressistas. E sua saída não alterará nisso.
Logo, por que esperar dos que inviabilizam o Governo, colaboração para o bem do Brasil? Os parlamentares mudaram? Foram substituídos? Vão deixar de querer dinheiro para pensar no bem dos brasileiros?
Duvido.
Contudo, talvez deputados e senadores, devido à popularidade de Bolsonaro, estejam preocupados com os reflexos para as eleições em 2022 se mantiverem essa postura hostil. Talvez busquem uma parcial flexibilização da abstinência corruptiva. Ou,… talvez…, tenham verificado que se abraçarem o programa de governo e dele se tornarem sócios, terão dividendos eleitorais não vislumbrados no confronto com um adversário cuja popularidade nada atinge.
Não, não acho que o chefe do Executivo cederá ao Presidencialismo de Coalização. Creio que poderá haver algumas demonstrações de boa vontade, porém sem loteamento de cargos com porteiras fechadas, que é a verdadeira moeda de troca.
Tampouco acredito na viabilidade de impeachment, pois poderia levantar a população contra o Congresso e o STF. Não penso que arriscarão.
Em resumo, minha avaliação é que Rodrigo Maia foi eleito e reeleito porque se mostrou capaz de defender os interesses espúrios dos deputados. Nesse processo, seu ego foi inflado para radicalizar a situação sem comprometer seus patrocinadores. Ele mordeu a isca, se inebriou com o poder e começou a vislumbrar para si próprio um futuro à altura de sua grandeza.
Entretanto, Bolsonaro resistiu aos assédios e agora os patrocinadores do Rodrigo Maia, versão primeiro-ministro, para poderem se reacomodar no cenário político, lhe atribuem todos os males e o jogam à lata de lixo.
O mais interessante disso, é que o Nhonho, tadinho, que se julgava tão esperto e poderoso, só se apercebeu dessa armadilha neste fim de semana e está surtando.
Fábio Sahm Paggiaro, para Vida Destra, 03/02/2021. Sigam-me no Twitter! Vamos debater o tema! @FPaggiaro
Perfeito… Essa parte foi sensacional : ” Rodrigo Maia não inventou o Presidencialismo de Coalizão e obrigou os demais a praticá-lo. Ele era apenas um adepto fanático, como a maioria dos congressistas. E sua saída não alterará nisso. “
Boa!
Excelente análise.
Parece que foi mesmo instinto de sobrevivência política com foco em 2022, pois até o PSDB largou a mão do Rodrigo Maia.