Muita gente tem comentado a alta expressiva do dólar, aqui no Brasil. Mas, curiosamente, agora a Bolsa de Valores parece ter-se “descolado” disso, porque está subindo, e esse é um movimento atípico. Em geral, quando o dólar sobe, a Bolsa desce, e vice-versa.
Ontem, a Bolsa experimentou um movimento de queda e depois de recuperação. Além dos temores e incertezas com o COVID-19, o IRB (Instituto de Resseguros Brasil), líder em resseguros na América Latina e entre os dez maiores resseguradores do mundo, meteu-se em um imbróglio que envolve a Berkshire Hathaway, veículo de investimentos do lendário megainvestidor Warren Buffett.
De acordo com uma recente nota, a companhia de Buffett nunca foi acionista e nem tem intenção de comprar ações do IRB.
Essa nota foi uma resposta a uma notícia do dia 27 de fevereiro, do Estadão, de que a Berkshire seria acionista do IRB e ainda teria triplicado sua posição na resseguradora. A notícia causou furor no mercado, pois a entrada de uma empresa de investimentos tradicional como a Berkshire na companhia era um sinal de confiança no IRB. Daí, os papéis do IRB subiram 6,66%, naquele dia. Contudo, com o desmentido, ontem despencaram 40%! Vejam a dureza da nota da Berkshire:
“Foram publicadas recentemente matérias na imprensa brasileira de que a Berkshire Hathaway é uma acionista do IBR Brasil Re. Essas matérias são incorretas. A Berkshire Hathaway não é acionista do IRB atualmente, nunca foi acionista do IRB e não tem a intenção de se tornar um acionista do IRB“.
Isso jogou o Ibovespa para baixo, porque o IRB é uma das maiores empresas listadas no índice.
Porém, na sequência veio a notícia de que John Biden venceu as primárias do Partido Democrata nos EUA. Biden tem um perfil bem mais moderado que seu adversário Bernie Sanders. A notícia animou os mercados mundo afora, e o Brasil seguiu a tendência.
Do ponto de vista, doméstico, a queda dos futuros de juros, como o D.I. e Selic, também animou a subida do Ibovespa, que afinal, fechou em alta de 1,6%. Contudo, hoje está abrindo em queda, outra vez por causa do COVID-19. É bom que se diga que o Ibovespa Futuro está em queda de 1%, neste momento, por causa do vírus.
No mercado de câmbio, contudo, a sensação de risco pela epidemia do COVID-19 imperou, e o dólar continuou subindo, atingindo R$ 4,59. Enquanto a epidemia não arrefecer, o dólar vai continuar pressionado. Até desnecessário dizer que, havendo variações abruptas de preços, para cima ou para baixo, os especuladores atacam. No caso, o Real, hoje em dia, está muito mais bem administrado que em 98. O que quero dizer é que com a condução da política monetária e cambial do jeito que está sendo feita por Roberto Campos Neto, bem como o confortável volume de reservas atuais. A última vez em que houve um ataque especulativo ao Real, as reservas internacionais estavam na casa de US$ 71 bilhões, e o câmbio era fixo. Hoje, são US$ 357 bi, e o câmbio é flutuante. Com certeza, atacarão o Real para justamente “puxar” uma reação do BC, para que este venda mais dólares. Neste momento é preciso muito mais sangue-frio. Campos Neto sabe disso.
Nesse quadro todo, um dado curioso: as emissões de carbono pela China despencaram 25%, segundo a NASA e a Agência Espacial Europeia, desde o início da epidemia de COVID-19. Um vírus foi muito mais eficiente do que milhões de ambientalistas!
Fábio Talhari, para Vida Destra, 5/3/2.020.
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