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A Tragédia Brasileira – Parte I: professores

“Idiocracia – o único filme que foi lançado como uma comédia e está se tonando um documentário”.

De todos os absurdos que compõem a humilhante rotina de ser brasileiro, talvez não haja um mais ultrajante do que aquele que insistimos em dar o nome de educação.

Refiro-me aqui mais diretamente à educação escolar, da qual participo como professor, mas não há como afastar a convicção de que se trata de problema cujos limites, se é que existem, estão muito além dos muros da escola. Família, governo, universidades e professores acusam-se mutuamente enquanto cada um dá sua própria contribuição para a grande merda coletiva nacional. Nas aulas de sociologia e de filosofia, costumo exibir o filme Idiocracia, de Mike Jugde, como forma de sensibilizar os alunos para a importância do cultivo da sabedoria como um valor. E é inevitável reconhecer que estamos construindo a realidade ali descrita como o futuro da humanidade. Falta tudo na educação, mas todos só olham para as falhas do governo. A escola brasileira é uma espécie de Guernica, só que sem nenhum valor artístico.

Não o digo para diminuir as pessoas que nela se formam, mas para descrever fielmente um problema central da sociedade brasileira que, para ser resolvido, precisa primeiro ser admitido em todos os seus aspectos. E aí temos a primeira grande barreira: os profissionais que nela atuam (professores, equipe pedagógica, diretores regionais e tecnocratas) são, via de rega, pessoas profundamente comprometidas com a visão ideológica que deu causa a todo o problema. São quase todos de esquerda, no sentido mais amplo possível, e normalmente isso significa que são violentamente avessos a qualquer exame de consciência. Esse vínculo afetivo é constantemente reforçado por toda uma “subcultura de sala dos professores” que visa a direcionar toda a frustração de ser brasileiro contra os inimigos da esquerda: o capitalismo, o governo burguês, o cristianismo, a família etc. Excesso de presença do estado na economia, declínio da autoridade como valor social e relativismo moral nem entram em questão.

Nesse contexto, aqueles que têm por missão provocar nos jovens o desejo de conhecer a verdade vivem eles mesmos mergulhados num reino de mentiras e auto-enganos, num tipo de seita que reforça constantemente a submissão ideológica dos seus membros. Os que, como eu, desenvolvem a ousadia libertar-se sofrem por isso pesados constrangimentos (“como assim você vai votar no Bolsonaro?!”) ou até mesmo agressões físicas.

Convém relatar que essa subcultura anda mais agressiva do que nunca ultimamente, justamente porque está ameaçada pelo renascimento da direita (Glória a Deuxx), em especial pelo movimento Escola Sem Partido, que já causa importantes embaraços aos meus colegas doutrinadores nas aulas e nas reuniões de pais. São eles agora os reacionários e reagem perigosamente, com violência e vitimismo à medida que observam uma sucessão de gerações de jovens de direita. Aliás, os meninos são tão animados que por vezes eu mesmo tenho que intervir para pedir-lhes moderação.

E assim, com educadores que não educam (em parte porque militam, em parte porque muitos não têm o que ensinar) e alunos que não foram devidamente preparados para receber instrução (falarei disso em breve), mantemos diariamente uma máquina cara e inútil de distribuição de diplomas que nada significam para o progresso nacional.

É realmente muito bom ver surgir jovens que aos trancos e barrancos desenvolvem a vontade de se libertar, mas o trabalho deles está só começando, ainda vai levar muito tempo até que essa geração consiga pelo menos equilibrar o jogo e retomar os espaços perdidos. Para isso, dependem inclusive de superar limitações que decorrem de sua própria formação, carências que trazem consigo de um sistema que fez da escola o locus da humilhação nacional, algo que contraria sua própria missão de impulsionar o desenvolvimento do Brasil.

(continua)

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