Você já deixou de dar a sua opinião em uma roda de amigos só para não polemizar? Já falou “religião e futebol não se discute”? Já pensou que não gostava de algo, mas disse, só para agradar as pessoas do seu convívio, por que era o politicamente correto a ser dito?
Parabéns! seja bem-vindo! você já foi afetado pela espiral do silêncio e nem tinha noção.
A espiral do silêncio é uma teoria da comunicação de massa aplicada na ciência política. Noelle – Neumann propôs na Alemanha, no final da década de 70, um experimento em que ela supunha que os seres humanos omitem seus pensamentos (atitude) e até mudam seu comportamento, quando inseridos em situações conflitantes, simplesmente por medo. Esse medo pode ter diversas causas, desde bullying, chacota, isolamento, expulsão do grupo e até agressão física ou morte.
A atitude é um processo mental que permeia o nosso pensamento, baseado em nossas crenças. O comportamento é a parte observável de nossa atitude. Nem sempre a atitude é refletida em comportamento, como?
O comportamento pode ser diferente da atitude, sempre que convier, é aí que começa a viagem pela espiral do silêncio. Para exemplificar, tomemos por base a exclusão de um tweet do Ministério da Saúde na semana passada, que dizia:
“O tratamento precoce do COVID19, salva vidas”
Para os ativistas pró vacina e anti tratamento precoce foi um “prato cheio”. Críticas duras à autoridade por genocídio e irresponsabilidade administrativa foram realizadas nas redes sociais por entidades jornalísticas em apoio à ação de censura do Twitter.
Será que incentivar o tratamento precoce de uma doença, comprovado em artigos do American Journal of Medicine é genocídio? A única salvação está em uma vacina, experimental, que tem a eficácia de um “cara ou coroa”? Será?
Para os que foram salvos pelo tratamento precoce, incluindo aí toda a minha família, que conhecem a realidade cruel do isolamento “tortura” psicológica do “fique em casa” repetido e orquestrado milhares de vezes, pela maioria dos veículos de difusão do Brasil, a orientação do Ministério da Saúde foi a representação de suas experiências pessoais e de seu pensamento. Para aquelas pessoas não é possível que no século XXI os brasileiros não possam ter acesso a tratamentos imediatos, baseados em experimentos (como a própria vacina) realizados com seriedade e tecnologia moderna, com o intuito real de “salvar vidas”.
Mas, poucos se posicionaram desta forma nas redes sociais, por quê?
A resposta é simples. Este comportamento dissonante pode aparecer em qualquer circunstância, em que o medo de confronto ou a conveniência se apresentem, seja no convívio social, em redes sociais, durante uma entrevista ao vivo, na presença de juristas e ou de jornalistas ativistas políticos, que ignoram a realidade e militam para dificultar as ações governamentais de combate à pandemia.
O medo de se contrapor à opinião pública dominante na mídia mainstream ¹(rádio, TV e jornais) e/ou de ser massacrado, ou até mesmo “cancelado” ² nas redes sociais é implementado por uma espécie de patrulha do pensamento e acaba por calar as opiniões divergentes.
Como os divergentes se calam, forma-se uma opinião pública politicamente correta, pura e isenta de contraposições.
Penso, portanto, sou!
René Descartes criou a frase do título, que foi durante a história erroneamente traduzida como “penso, logo, existo”. Esta é a expressão humana da opinião, de um juízo de valor, pessoal, que o indivíduo faz em relação a alguma situação vivida ou qualquer fato.
A dimensão pública do pensamento ocorre quando a percepção sobre um fato é a mesma em um vasto número de pessoas ou é imposta a elas por pressão das notícias divulgadas incessantemente pelas mídias, que moldam o pensamento dito comum. Portanto, para sermos humanos, precisamos ter pensamentos livres e individuais, não cerceados pela maioria, isto é o que caracteriza a liberdade.
A partir de 2014, com a popularização do acesso à internet, o povo parece ter acordado de seu “berço esplêndido” como no Hino Nacional. As manifestações populares em prol de um governo transparente e da punição de uma Presidente que cometeu crimes. O resultado foi a assunção do governo pelo presidente Temer.
O que explica este rompimento da Espiral do Silêncio?
Após mais de 20 anos de implementação do discurso politicamente correto e do patrulhamento do pensamento divergente, o brasileiro médio resolveu mudar. Por quê?
Sérgio Buarque de Holanda, revisado por Roberto da Matta parece nos dar uma indicação do caminho para entender o questionamento proposto. O brasileiro é, por natureza, um ser humano cordial e dual.
Roberto Da Matta considera que o brasileiro, além de ser cordial, ou seja, que conduz suas atitudes muito mais pela emoção do que pela razão, tem por natureza uma dualidade, ou seja, independente do comportamento mostrado, ele possui uma atitude diferente quando “ninguém está olhando”.
O brasileiro tem um posicionamento em casa, entre os amigos e os parentes, no seu núcleo familiar próximo e em suas redes sociais; e outro na rua, perante a sociedade, a burocracia, o sistema jurídico e a Lei; que simplesmente coexistem numa sociedade em constante mutação, profundamente marcada por transições equilibradas e negociadas.
Ainda, o brasileiro é aficionado por ganhar, nem que seja campeonato de futebol de botão ou numa disputa de “par ou ímpar”. Isso o deixa propenso a querer se dar bem em qualquer situação, que Da Matta classifica como sendo o famoso “jeitinho brasileiro”.
O “jeitinho brasileiro” é uma forma de corrupção bem aceita pela maioria dos brasileiros. Sim, uma forma de corrupção, exemplo: um jovem que fura fila e acha que é esperto, mas, está violando o direito (tácito) do outro de ser atendido primeiro, porque chegou primeiro.
Uma pessoa que é parada em uma blitz policial e que ofereça dinheiro para que ele a libere de uma multa, é também um corrupto, tanto quanto um empresário, funcionário público ou políticos condenados por corrupção ativa ou passiva.
O correto seria o brasileiro pego em erros no trânsito aceitar uma admoestação, pagar sua multa e responder, se for o caso, judicialmente pelos atos infracionais cometidos.
A cultura do “se dar bem em qualquer situação” é uma característica marcante da ética do brasileiro. Pedir ajuda para um parente, ou a prática de pequenos subornos, para burlar a ordem legal vigente, são ações que fazem parte do dia a dia da população. Tudo isso colabora para que o brasileiro se afunde em diversas espirais do silêncio e adote o “politicamente correto” como bandeira em suas conversas e posicionamentos.
Essa cultura do “jeitinho brasileiro” ajuda em muito na dessensibilização proposta por Gramsci para a implementação da espiral do silêncio e da padronização dos procedimentos e discursos propostos pelo conjunto de normas “politicamente corretas”.
Então, como resposta ao questionamento inicial, é possível admitir que o povo brasileiro se “insurgiu” contra o politicamente correto e a idolatria à cultura do “jeitinho brasileiro” ao apoiar incondicionalmente uma vasta operação anticorrupção, e elegendo um candidato que não estava citado ou envolvido com as investigações vigentes.
Conclusão
É fundamental entender que apesar da relativização da verdade, ela existe em um senso comum, que é diferente da opinião politicamente correta da dita “opinião pública”.
Fugir do politicamente correto e desafiar a espiral do silêncio são as armas do cidadão comum à manipulação e à desinformação diárias recebidas seja pela mídia mainstream, seja pelas redes sociais ou no convívio social presencial.
É importante conhecer a verdade sobre os fatos e sempre considerá-los, mesmo que seja estranho ou inadequado às nossas crenças pessoais. Apesar da pós-verdade, os fatos importam!
¹ Mainstream: caracteriza-se pela corrente de pensamento mais comum ou generalizada no contexto de determinada cultura. A corrente dominante inclui toda a cultura popular e cultura de massa, as quais são difundidas pelos meios de comunicação de massa.
² Cancelamento: fenômeno nas redes sociais que consiste no ato de boicotar figuras públicas que agem de forma considerada ofensiva.
Clynson, para Vida Destra, 22/01/2021.
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Crédito da Imagem: Luiz Augusto @LuizJacoby
Artigo cirúrgico.
A imprensa dominada pela esquerda, em todo o mundo, adquiriu a capacidade de definir as “mainstreams”, bem como de “cancelar” as vozes discordantes. A imprensa se tornou o “Ministério da Verdade”. Excelente. Parabéns.