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Crônica da normalidade

Eu ia falar sobre o Olavo de Carvalho. Não vou e no final vocês vão entender. Ele é uma personalidade controvertida e eu não saberia se o ataco ou o defendo, pois há coisas que ele diz e escreve para as quais torço o nariz, enquanto há outras – a maioria, diga-se de passagem – que me obrigam a pensar: “Puxa! Ele tem razão.”

Olavo é a antítese do politicamente correto: é deselegante e desbocado, baixinho, se veste mal, fuma muito, palpita sobre tudo e apela para a linguagem chula com demasiada freqüência. Não gosto disso. Mas, dizem alguns psicólogos que quem fala palavrões vive melhor. Não acredito. Entretanto, por via das dúvidas, quando me reúno com o espelho, na intimidade do banheiro de casa, falo os palavrões que conheço à meia voz para que ninguém mais ouça. Sou mais feliz por isso? Não sei, só acho que não tem me feito mal, pelo menos até agora. Além disso, depois de desabafar, sinto-me um pouco melhor encarando a vida social sem a necessidade de baixar o nível quando ouço alguma imbecilidade, dessas que dão vontade de soltar um sonoro palavrão. Então, tranquilo, nada falo e apenas sorrio e penso: “Que imbecil!”.

Por outro lado, para saber o que Olavo pensa, fui ler alguma coisa dele. Fiquei impressionado com a coletânea de artigos publicados no livro “O Mínimo que Você Precisa Saber para não Ser um Idiota”. Antes de comprar o livro, impliquei com o título que me pareceu insultante e demasiadamente pessoal. Contudo, como também era um título desafiador, comprei e li do começo ao fim. Sou um profissional de marketing e admiro quem saiba fazer um bom marketing e esse título quase que me obrigou a comprar o livro. Ponto para ele. Além disso, sim, confesso, ao final da leitura estava me sentindo um pouco menos idiota.

Há quem o adore e quem o deteste em seu ferrenho anti-socialismo. Ele passa a impressão que não dá a mínima para isso. Deve ser porque talvez se considere melhor do que quem não é capaz de contestá-lo com um mínimo de pertinência, única razão aparente para agir dessa maneira. Ou será por causa dos palavrões que o tornam indiferente às opiniões? Não sei. O fato é que tem muitos milhares de seguidores fieis nas redes sociais e há quem afirme que ele exerce forte influência sobre o clã dos Bolsonaro. Pode ser também, mas eu duvido que Jair Bolsonaro deixe a filha Laurinha ler os livros de Olavo de Carvalho ou acompanhá-lo nas Redes Sociais, mesmo que a expressão dela, como vimos na comemoração do último 7 de Setembro, deixe alguma dúvida sobre isso: o olhar enfezado sugere que ela sabe mais do que deveria para a idade.

É por tudo isso que não quero falar sobre Olavo de Carvalho. Minha sábia avó, quando queria mostrar cultura, parafraseava algum filósofo – um Platão desses que existiram na antiguidade – dizendo que “Pessoas normais falam sobre coisas, pessoas inteligentes falam sobre idéias, pessoas mesquinhas falam sobre pessoas”. Portanto, para que não me julguem mesquinho e querendo aparentar pelo menos normalidade e por não me sentir capacitado a contestar as idéias dele, me recuso a falar sobre a pessoa de Olavo de Carvalho. Vou escrever sobre outra coisa. Mas que ele é bom, isso é.

Laerte A. Ferraz, para Vida Destra, 13/09/2019.

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Advogado, jornalista e publicitário. Escritor, articulista, palestrante e consultor empresarial em Marketing e Comunicação