A eleição, no mínimo duvidosa, de Joe Biden e a divisão cada vez mais acirrada nos Estados Unidos, é a deflagração derradeira do fim de um dos “impérios” mais poderosos da história da humanidade.
Diferente dos grandes impérios antigos, o domínio norte-americano não se deu por expansões territoriais, muito menos por processos intensos de colonização. O poderio americano se deu de forma muito mais sorrateira, todavia, efetiva, através de uma influência massiva em todo o globo.
O “American Way” se tornou coqueluche principalmente com a expansão da indústria cinematográfica e como consequência, todo o mundo foi “bombardeado” com uma sedutora propaganda de um estilo de vida exagerado e arrogante, sempre com a ideia de absoluta superioridade cultural em relação a qualquer outro local do planeta.
Restasse somente na questão cultural, o império americano poderia continuar tranquilamente, todavia, pelo desejo cada vez maior de influência estratégica, política e econômica, inúmeras administrações americanas passaram a intervir de forma direta e/ou indireta em dezenas de países por todo o planeta, fazendo muitos inimigos e criando um sentimento antiamericano que se multiplicou de forma espantosa, especialmente a partir do século XXI.
Neste artigo, procuraremos compreender de forma bastante compacta, como a interferência americana, especialmente no Oriente Médio e no norte da África, foram cruciais para a deterioração irremediável de sua própria sociedade, e do agravamento latente de seus conflitos domésticos.
Com o mundo dividido entre potências extremamente antagônicas, Estados Unidos e União Soviética, a busca por influência nos demais países era questão fundamental para a proteção das fronteiras de ambos e vital para as estratégias econômicas de cada vertente ideológica, capitalista e comunista.
O terror das ditaduras comunistas, que deixaram quase 100 milhões de mortos durante o período, facilitou o trabalho dos Estados Unidos, que através de discursos de liberdade e prosperidade, encantou o mundo com seu estilo de vida, levando a todo o planeta suas empresas, músicas, arte, cultura e até mesmo sua língua.
A decadência dos regimes comunistas, no entanto, não conteve a ânsia norte-americana por expansão global, e o conceito da “Nova Ordem Mundial” surgiu de forma avassaladora a partir dos anos 90. Através dos mais diversos organismos, governamentais ou não, os EUA passaram a exercer um domínio econômico, geopolítico, estratégico e militar que foi replicado à exaustão na interferência nos mais diversos países, de modo a aumentar ainda mais esse poder.
Podemos traçar o início desta tendência a partir das guerras no Oriente Médio nos anos 80, que iniciaram um grande processo de indisposição entre os Estados Unidos e o Mundo Árabe, refletindo de forma terrível no acirramento das tensões na região com a popularização dos movimentos fundamentalistas islâmicos, opostos ao regime norte-americano. A partir daí, foram diversas invasões, patrocínios e intervenções em países muçulmanos, onde podemos ressaltar, Iraque, Irã, Kuwait, Iêmen, Somália, Síria, Líbia, Sudão, Afeganistão, Paquistão, Arábia Saudita e Jordânia.
O desejo cada vez maior em se tornar a “Polícia do Mundo”, transformou os Estados Unidos em país non grato em várias partes do planeta, sob a premissa – bastante válida – de que haviam se tornado uma potência intervencionista e violadora da soberania de países independentes.
Sob a égide valorosa da busca pela implantação de regimes democráticos em territórios dominados por regimes autoritários, havia o interesse especialmente pelo petróleo dessas regiões, bem como na aproximação da influência norte-americana dentro do bloco eurasiano, mais um conceito que deve ser estudado a fundo dentro daquilo que chamamos de Nova Ordem Mundial.
As intervenções na antiga Iugoslávia, e na Sérvia e Montenegro, durante a Guerra do Kosovo, também serviram para ampliar o horizonte de influência norte-americana dentro da OTAN, mais uma vez em direção ao bloco eurasiano, desafiando a vontade russa e criando tensões absolutamente desnecessárias.
Todo esse movimento estratégico norte-americano, obviamente sofreria retaliações e elas vieram da forma mais nociva possível para os Estados Unidos. Poderosos investidores, onde podemos destacar, George Soros, passaram a adotar uma posição ofensiva contra os americanos, investindo cada vez mais em mídias independentes e ONGs, para insuflar dentro da sociedade norte-americana, valores e conceitos segregacionistas, transformando uma sociedade outrora coesa, em um gigante quebra-cabeça sem encaixe. Disputas raciais, sociais, religiosas, étnicas, culturais e de gênero, foram incansavelmente fomentadas, levando os Estados Unidos a um processo de fragmentação e degradação moral com reflexos em todo o território nacional.
Podemos concluir, a partir do panorama apresentado, que tivesse os EUA se preocupado mais com suas questões domésticas, como os resquícios alarmantes da segregação racial do século passado, a sociedade norte-americana poderia gozar de uma organização muito mais coesa, e moral preservada. A ânsia de décadas de administrações intervencionistas em investir muito mais nas “guerras por procuração”, no entanto, fez com que o povo norte-americano se sentisse abandonado, transformando os EUA em solo fértil para todo tipo de ideologia segregacionista e destruidora, que hoje se materializa através de um país dividido e profundamente contaminado pelo ódio, com bilionários que buscam controlar a população de forma tirânica, e boa parte do povo que se preocupa apenas com uma vida dedicada ao hedonismo, e sem qualquer limite moral para tal.
A destruição do império norte-americano não precisou contar com um disparo sequer pelos seus inimigos. A própria sede por domínio fez desmoronar o castelo de cartas que outrora reluzia como ouro.
Lucas Jeha, para Vida Destra, 26/01/2021. Sigam-me no Twitter! Vamos conversar sobre o artigo! @LucasJeha
Crédito da Imagem: Luiz Augusto @LuizJacoby
Só isso aqui resumiu o artigo inteiro ” A destruição do império norte-americano não precisou contar com um disparo sequer pelos seus inimigos. A própria sede por domínio fez desmoronar o castelo de cartas que outrora reluzia como ouro.”
Obrigado pelo comentário, Nunes! É triste e chocante constatar a decadência dos EUA. Uma decadência construída pela própria elite política e cultural do país.
Excelente texto, Lu! A má administração novamente mostrando a face.
A ignorância do povo é grotesca… O seu texto resume perfeitamente o momento que os EUA vem vivendo.
Obrigado, Dai!
No brilhante artigo de @LucasJeha sobre a queda do império, acredito que houve uma lição com o Vietnã, mas indago aí autor se EUA não poderia parar de financiar a indústria bélica americana por isto as guerras no Oriente Médio; e como fica agora com Joe Biden? Vai retirar as tropas.
Obrigado pelo comentário! Infelizmente a tendência com Biden é de um aumento das tensões no Oriente Médio. O cenário é bastante sombrio.