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MACRON! O GATO SUBIU NO TELHADO!

Depois de dar um chilique internacional, por uma suposta “preocupação ambientalista” com queimadas na Amazônia, fundadas em uma foto de 2003 e sem apoio na realidade, senão naquela esquizofrênica e paralela em que a esquerda parece viver, Macron deixou claro, no fim das contas, que sua preocupação real em relação ao Brasil é o Acordo de Livre Comércio UE-Mercosul. Esse foi um erro político que não poderia ter cometido, e que esvazia como um balão suas pretensões.

Houvesse Macron mantido a boca fechada e continuado no discurso do politicamente correto ambientalista, seu apoio por parte da esquerda, no mundo e aqui no Brasil, teria suporte para fazer bastante barulho contra o Governo brasileiro. Ocorre que, como vimos acontecer, ele, além de pedir que a questão da Amazônia fosse incluída na reunião do G-7, que deve acontecer em Biarritz, na França, nos próximos dias 24 a 26 de  agosto de 2019, Macron declarou, de forma precipitada, que vai também pedir o bloqueio do Acordo UE-Mercosul.

O faz, como ficou claro, por pressão do setor agropecuário francês, que não tem condições de competir com os produtos agropecuários brasileiros, em especial a carne. Aliás, nesse mesmo diapasão, a Irlanda também se manifestou contra a entrada dos agropecuários brasileiros no mercado europeu, bem como a Itália e a Finlândia, fazendo eco, esta última dizendo que vai sugerir banir importações de carne brasileira para a União Europeia.

Nesse meio tempo, diante de tanta gritaria sinistropática, o Brasil não ficou inerte: fechou acordo de livre comércio com a Associação Europeia de Livre Comércio, que é formada por Noruega, Suíça, Liechtenstein e Islândia – países europeus que NÃO fazem parte da União Europeia! Ou seja, atacou pelas beiradas, garantindo desde já portas de entrada para produtos brasileiros na Europa. E ainda há incautos que consideram que o Presidente Bolsonaro é uma pessoa de parcos recursos intelectuais, ou que a equipe de Ministros que montou não é competente e não está trabalhando a todo vapor. Ledo engano. Essa foi uma cartada muito importante, como adiante se verá.

Mapa da Europa, mostrando os países que fazem parte da Associação de Livre Comércio

A discussão da questão ambiental da Amazônia, no G-7, que é composto por EUA, Reino Unido, França, Itália, Alemanha, Japão e Canadá, terá pouco efeito prático para as intenções de Macron.

Especificamente quanto à questão amazônica, podemos supor que EUA, Canadá e Japão não devam se manifestar, ou se o fizerem, seria por algo protocolar, como uma exortação a que o Brasil cumpra seus compromissos ambientais. Nada mais que isso. Por outro lado, ainda que Ângela Merkel tenha concordado com a inclusão dessa questão na pauta do G-7, as maiores preocupações dessa reunião próxima devem orbitar em torno do Brexit. Com isso, o Reino Unido está em uma situação delicada, já que não conseguiu chegar a um acordo para sua saída da União Europeia. Está nas barbas dos EUA, a bem da verdade, havendo uma evidente aproximação política entre Donald Trump e o atual primeiro-ministro inglês, Boris Johnson, que é do Partido Conservador, e também com o Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro.

Boris Johnson já declarou que o Brexit ocorrerá até a data limite (31 de outubro de 2019), com ou sem acordo. Por enquanto, estão sem acordo. Com isso, voltariam a vigorar, para o Reino Unido e UE, as regras da OMC, quanto à circulação de pessoas, bens, serviços e capitais – ou seja, haveria um imenso aumento de burocracia nessas circulações, e três setores da Economia britânica e europeia devem ser especialmente atingidos:

  1. Empresas financeiras britânicas teriam que sair da UE, o que atinge diretamente Barclays, HSBC e RBS, bem como bancos europeus deixariam de operar no Reino Unido, o que afetará Deustche Bank, BNP Paribas e Credit Agricole.
  2. As companhias aéreas inglesas não poderiam mais operar saindo da UE para o Exterior, nem realizar voos dentro da UE, o mesmo valendo para as companhias aéreas europeias, que não poderiam mais partir do R.U. para o exterior;
  3. Principalmente, o setor automotivo europeu sofreria os maiores impactos. Em especial as empresas alemãs, como VW e BMW, perderiam algo em torno de 100.00 empregos.

Diante desse cenário, em que Boris Johnson insiste em um Brexit “na marra”, o setor industrial (quiçá o financeiro) alemão tem muito, mas muito interesse na continuidade do acordo de livre comércio com o Mercosul. Não custa pincelar que a VW já está no Brasil desde 1953, e a BMW instalou fábrica aqui, em Araguari (SC), em setembro de 2014. E, vejam só, que coincidência: no acordo UE-Mercosul, há uma cláusula automotiva, prevendo livre comércio de veículos e peças, bem como instalação de laboratórios, sucursais e subcontratantes aqui nos territórios dos países do Mercosul. Ou seja, as fábricas de VW e BMW aqui devem sofrer um incremento tecnológico, bem como barateamento de veículos e peças, ampliando suas atividades, em um primeiro momento, e podemos até supor a necessidade de instalação de novas fábricas, para atender novos mercados, tanto aqui quanto no Exterior. Essa seria uma “válvula de escape” muito bem-vinda para Ângela Merkel, diante do Brexit forçado – a desagravação tarifária decorrente do Acordo de Livre Comércio UE-Brasil prevê redução imediata de 80% desses custos, chegando a 100% em um prazo máximo de 10 anos (os prazos são diferentes para cada produto e serviço listados no acordo – por exemplo, o setor calçadista brasileiro atingirá 100% em 7 anos).

Até porque no corpo do texto do acordo UE-Mercosul há outra interessante cláusula: tanto aqui na Europa, a parte econômica do tratado entra em vigor assim que aprovada pelo Parlamento Europeu e pelos Poderes Legislativos de cada país do Mercosul! Olhem que outra coincidência interessante! Isso, mesmo que questões políticas (como a do meio ambiente) NÃO tenham sido referendadas por todos os Poderes Legislativos de cada país. Isso quer dizer, Macron pode espernear muito sobre a questão ambiental (que se repita, é uma questão política) que NÃO impedirá que o acordo, em sua parte econômica, entre em vigor. Até por causa isso, não lhe interessava tanto manter o discurso de “ambientalista politicamente correto”, e deu as ratas de usar foto antiga, de chamar a Amazônia de “Nossa casa” e de ver que isso chamou a atenção do mundo para si, mas era uma retórica que não lhe interessava para obter o que realmente quer. No frigir dos ovos, ficou como mentiroso perante o mundo, já abandonou o cerne do discurso e agora deverá procurar outras formas de obstaculizar o acordo.

Porque essa de “ambientalista” não colou. O acordo de comércio da UE com o Mercosul começou a ser negociado há 20 anos, e não apenas para a Alemanha, mas para outros países, como a Espanha, deverá facilitar as tarifas de cerca de US $ 90 bilhões em comércio anual. Por isso, o primeiro-ministro espanhol Pedro Sanchez, que comparecerá à cúpula do G-7 justamente como convidado especial de Macron, é um dos maiores vencedores e entusiastas do acordo, já que investiu tempo e capital político para superar a dificuldades e obtê-lo, há apenas oito semanas. Sanchez não tinha sido avisado da ameaça de Macron quanto ao bloqueio do acordo, nem que isso seria tratado na cúpula, de acordo com um funcionário do Governo espanhol – e, portanto, não deve endossá-lo. O “cala boca” público no final veio, mesmo, veio de Merkel. Através de porta-voz, disse à Bloomberg que a chanceler não acredita que derrubar o acordo comercial vai atingir o objetivo da Macron, qual seja, de reduzir o desmatamento no Brasil e, na verdade, conter compromissos vinculantes de proteção climática – que são questões de ordem política e não econômica, diga-se mais uma vez. Ela não acha que ameaçar bloquear o acordo seja uma resposta apropriada ao que está acontecendo no Brasil, acrescentou. Merkel já havia concluído que não podia confiar na França quando se trata de livre comércio, nem quanto a participação em negociações multilaterais, as quais parecem não ser uma vocação para o Presidente Francês. Agora, a divisão deles está a céu aberto. Boris Johnson está tentando dividi-los sobre o Brexit, enquanto Trump está aumentando a pressão sobre uma série de questões, do comércio ao Irã à política econômica. Se estivesse procurando por pistas de quão robusta é essa aliança essencial da UE com o Mercosul, visto que ela ficou à frente de seu mais recente ataque, Macron apenas se entregou a Merkel, Trump e Johnson em uma bandeja.

Assim, Ângela Merkel já desautorizou Macron. Isso, para o bom entendedor, pode ser assim traduzido: “Seu louco! Com o Brexit acontecendo na marretada, não venha atrapalhar o Acordo com o Mercosul!”, ou seja: Merkel NÃO vai obstaculizar o acordo. Ponto final, Macron. Esse recado de Merkel vale para Bolsonaro, também, dizendo: “Olhe, querido, não precisa fechar acordo com países daqui que estão fora da União Europeia, a gente ainda quer você!”. A indústria alemã vê com muitos bons olhos a válvula de escape que esse acordo vai propiciar. No mais, os produtos agropecuários brasileiros são bem-vindos na Alemanha e no norte da Europa, industrializado em geral (exceto Finlândia, mas que também não deverá causar tanto problema, assim que o discurso de Macron afundar de vez).

E o tiro de misericórdia aconteceu pouco antes deste articulista encerrar mais este texto: Boris Johnson se uniu a Ângela Merkel, reafirmando que bloquear o acordo não é a resposta adequada aos acontecimentos no Brasil. Logo, tudo indica que Macron deve ficar isolado na vindoura reunião do G-7.

Portanto, Macron, aviso: a par de ter ficado com nariz de Pinóquio diante do mundo, escrevo-lhe carinhosamente para dizer que o gato subiu no telhado…

1 COMMENTS

  1. E ainda tem idiotas que acreditam que Macron e Cia possuem alguma preocupação real com nosso país que não seja nossas riquezas minerais. Enfraquecer o Mercosul (neste momento) é fundamental para essa corja que vê o risco do pioneirismo do Brasil no bloco.
    Parabéns pelo texto

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