“Depois da liberdade desaparecer, resta um país, mas já não há pátria”. François Chateaubriand.
Não bastasse ser um país assolado por misérias de todo tipo, desde materiais até intelectuais, gerador de refugiados, economicamente falido e politicamente dividido entre um presidente reconhecido pela comunidade internacional e um acusado de tráfico de drogas e terrorismo pelos EUA, a Venezuela insiste em dar demonstrações de força militar. Para quê?
Em 21 de maio o governo venezuelano anunciou que realizou o exercício militar “Escudo Bolivariano – Caribe I”, ocasião em que executou disparos de mísseis russos de curto alcance, a partir da base militar localizada na ilha de “La Orchilla”, ao norte de sua plataforma continental, 165 km ao norte de Caracas – capital venezuelana.
Nicolás Maduro, que tem sua cabeça a prêmio (inicialmente USD$ 15 milhões, agora elevados para USD$ 20 milhões) pelo Departamento de Justiça dos EUA, se dissera “pronto” para intervir e proteger o comboio iraniano de possíveis ações da armada dos Estados Unidos que está no Mar do Caribe.
A atividade militar ocorre às vésperas da chegada de um carregamento de combustível vindo do Irã por meio de cinco petroleiros, dos quais o primeiro (“Fortuna”) adentrou em águas venezuelanas às 20:40 h de sábado, dia 23 de maio, após passar por Trinidad e Tobago (outras ilhas do Mar do Caribe). Os demais devem chegar hoje na mesma região, neste domingo dia 24 de maio. O evento foi registrado no Twitter, em post de Tareck El Assami, vice-presidente da Economia da Venezuela.
Washington partiram declarações, nos últimos dias, que estavam considerando a resposta a ser dada pelos EUA à chegada desses petroleiros iranianos. A tensão está bastante alta, sendo que a TV estatal venezuelana transmitiu ontem imagens de um navio da marinha e uma aeronave venezuelanos partindo para encontrar a flotilha iraniana. O Ministro da Defesa venezuelano prometera escolta à flotilha, assim que os petroleiros alcançassem águas venezuelanas. O Irã, por sua vez, afirmou que há quatro navios de guerra e um avião norte-americanos acompanhando a movimentação desses petroleiros, mas nada foi confirmado pelos EUA a esse respeito.
Nominalmente, os navios iranianos estão carregados com gasolina, mas há fortes suspeitas de que levem cargas militares, também. A Venezuela produz petróleo, mas como não há mais refinarias em funcionamento no país, não há produção do óleo bruto – daí porque há a necessidade do combustível, dada a crise energética que está assolando os venezuelanos.
Conquanto haja voos diretos de Caracas a Moscou que, segundo informações de agências turísticas, são 17 por dia, não se sabe se tamanha movimentação aérea transporta exclusivamente passageiros. As especulações são no sentido de que tais voos carreguem desde armamento leve russo até tropas, incluindo suspeitas de que também estejam sendo movimentados drogas e ouro da Venezuela para a Rússia. Porém, para que houvesse transporte de armamento pesado, tanques e veículos, seria necessário que isso se desse por navios – nesse sentido, os petroleiros iranianos poderiam estar carregando esse material.
Não é de hoje que a Venezuela vem adquirindo equipamento militar de países como China e, principalmente, da Rússia. Nos idos de 2011 adquiriu um sistema de lançamento múltiplo de mísseis da Rússia, o B30 SMERCH, com o objetivo de aumentar o seu poderio bélico.
As baterias B30 SMERCH russas são essencialmente um armamento de artilharia de saturação de área. Seus mísseis podem alcançar um alvo entre 40 e 120 quilômetros de distância e saturar uma área correspondente 670 mil m².
Entretanto, segundo a doutrina de emprego da artilharia, as baterias de mísseis como a SMERCH é melhor utilizada para destruir instalações logísticas de grande porte, espalhadas por áreas extensas, ou destruir comboios e restringir o movimento de tropas terrestres (é um tipo de míssil terra-terra). A eficiência e letalidade de tal armamento se encontram na sua capacidade de interditar áreas enormes por um certo período de tempo.
O sistema SMERCH, comprado pela Venezuela, contudo, não tem a capacidade de atingir cirurgicamente os alvos em terra, e também não possui essa capacidade no mar. Os sistemas teleguiados não se orientam por infravermelho e nem podem ser guiados para atingir navios, como prometido pelo ditador Maduro para proteger o comboio iraniano.
Então, como este exercício pode ser encarado?
A melhor definição para esse teatro todo foi de Juan Guaido, presidente interino reconhecido por mais de cinquenta países, incluindo Brasil e EUA, que o qualificou como “Demonstração de Propaganda”, apenas. Não se pode chamá-la de demonstração de Força Militar, pois empregar um armamento poderoso de forma equivocada é o mesmo que “dar um tiro no próprio pé”. Em outras palavras, é inútil e até perigoso disparar mísseis terra-terra, de saturação, em uma área onde há petroleiros carregados com gasolina.
As intenções da Venezuela são claramente se manter viva no contexto internacional e fazer-se importante no contexto da liderança do Grupo de Puebla, cujo principal objetivo é implementar uma agenda comunista/socialista nas Américas e “confrontar o imperialismo norte-americano”.
As tentativas de Maduro em demonstrar o poder militar da Venezuela não conseguem dissuadir os países vizinhos e nem mesmo os leitores mais atentos. Parece que a queda do ditador venezuelano é iminente, pois só essa situação explicaria tamanha inépcia de sua parte ao fazer essa “ameaça fantasma”.
Clynson Oliveira, para Vida Destra, 24/5/2.020.
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Seriam os mísseis SMERCH similares ao Sistema ASTROS brasileiro? Não seriam melhor descritos como foguetes? Parabéns pelo artigo. MB.
Belo texto
Interessante essas informações, que não achamos na mídia tradicional.
Clareza e objetividade. Tema esquecido pela mídia tradicional, mas que é de total interesse do Brasil, por afetar nosso entorno estratégico. O regime de Maduro sobrevive do tráfico de cocaína e do contrabando do ouro da bacia do Orinoco pra Rússia e Irã.