Meu avô, quando se encontrava numa situação difícil, costumava dizer: “Pronto, agora estou no mato sem cachorro”.
Foi preciso eu crescer e me tornar pré-adolescente para entender o que ele queria dizer com isso. Primeiro eu tive que entender que na época de meu avô, que quase sempre viveu em sítios e fazendas, caçar tanto era um lazer quanto uma maneira de colocar comida na mesa da família. E para um caçador, o cachorro é um aliado inestimável, pressentindo a presença da caça muito antes dos nossos débeis sentidos, assim como são capazes de sinalizar e nos advertir de algum perigo. Por isso, quando acontecia do velho Ford que meu avô tinha pifar na estrada e ele, hábil como era, descia para consertar e percebendo que lhe faltavam as peças necessárias, dizia que estava no mato sem cachorro, a frase fazia sentido.
Lembrei disso porque ao longo de minha vida parafraseei muitas vezes meu avô. Não faltaram oportunidades para eu comentar com alguém: “É, amigo, acho que agora você está no mato sem cachorro”.
Quando olho a situação do Brasil e vejo Bolsonaro tentando governar, apresentando propostas necessárias para que o país comece a deslanchar, depois de muitos anos de desacertos da malfadada era lulopetista e, apesar disso, vejo também a oposição baixa e rasteira que fazem os recém desmamados das benesses da corrupção institucionalizada, a má vontade da imprensa e, principalmente, as manobras de um Congresso que tudo dificulta, mesmo contrariando os interesses do país, a cada armadilha que para ele preparam, a cada dificuldade que criam, por analogia, a frase que meu avô usava me vem à mente e minha vontade é dizer: “É, Bolsonaro, parece que agora você está no mato sem cachorro”.
Mas também lembro que quando eu indagava ao meu avô “E agora, vovô, o que a gente faz?”, ele me olhava sorrindo com malícia e respondia “Quem não tem cão, caça como gato, meu neto”. E improvisava. Invariavelmente, dava certo.
Com o tempo, também entendi que “caçar como gato” é se valer de esperteza, usar astúcia, ser matreiro, saber negacear, improvisar nas adversidades.
Mais uma vez por analogia vejo que é assim que Bolsonaro tem conseguido governar: sempre se valendo da astúcia e muitas vezes improvisando para contornar as armadilhas e as dificuldades que lhe impõem os críticos solertes e os opositores ressentidos.
Querem saber? Há quem diga que a Bolsonaro falta postura e que ele é limitado. Mas quando o vejo se saindo de situações muitas vezes melhor do que entrou, lembro de meu saudoso avô e penso: “Bolsonaro é melhor do que eu esperava”. E me regozijo com o acerto da escolha que fiz.
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