“A Nova Era e a Revolução Cultural – Fritjof Capra e Antonio Gramsci” foi o primeiro livro de Olavo de Carvalho que li. Até iniciá-lo, conhecia apenas o Olavo pensador católico e o polemista implacável, do famoso debate sobre Direito sob a perspectiva marxista, com Alaor Caffé Alves na Sala dos Estudantes do Largo São Francisco (para quem se interessar, segue link para a transcrição do debate:(http://olavodecarvalho.org/marxismo-direito-e-sociedade-parte-i/). E também o Olavo do Twitter, visceral e extremamente agressivo.
Ao iniciar a leitura do livro, foi uma agradabilíssima surpresa deparar-me, já nas primeiras frases, com um estilo primoroso. Uma escrita ao mesmo tempo leve, objetiva e culta, como raramente se encontra e que honra a língua portuguesa.
O livro , cuja primeira edição é de 1984, é composto de dois ensaios. O primeiro trata da chamada Nova Era e de um de seus principais nomes, Fritjof Capra. Mostrando um profundo conhecimento da filosofia oriental e valendo-se de robusta bibliografia (por exemplo, “The Religion of China”, de ninguém menos que Max Weber), Olavo desmascara a fragilidade e as contradições filosóficas de Capra, revelando inclusive falhas conceituais desse autor na própria compreensão do pensamento chinês.
O segundo ensaio é sobre a Revolução Cultural, assim chamada a doutrina de Antonio Gramsci sobre como fazer a revolução comunista. Olavo mostra como Gramsci, reciclando ideias já presentes em Marx e Lenin, tornou-se o grande guru dos comunistas brasileiros modernos, que vêm aplicando fielmente suas lições. Para Gramsci, a revolução não se dará pela tomada violenta do poder por uma vanguarda comunista, mas sim pela conquista paulatina da mente das pessoas, pela inoculação de um modo de pensar socialista. E essa inoculação se dá através das escolas, universidades, intelectuais, artistas, imprensa etc., que tornam-se instrumentos de propaganda “full time”. Nada é feito ou falado que não tenha por objetivo precípuo o direcionamento das mentes e sentimentos para o modo de pensar socialista. E, nesse processo, evidentemente, pouco importam fatos ou verdades, que para ele não existem. A verdade é o que é útil para a revolução.
Na 4a. edição – que foi a que li -, terminado esse segundo ensaio há uma coletânea de artigos de Olavo publicados em jornais, desde 1994 até 2014, que mostram, na medida em que iam acontecendo, episódios da Revolução Cultural em andamento no Brasil nesse período. A chegada ao poder do marxista-weberiano Fernando Henrique Cardoso e, num segundo momento, do PT, fundado e integrado por inúmeros seguidores de Gramsci, aprofundou a infiltração das ideias socialistas dentro da máquina pública e na imprensa, eliminando os últimos resquícios de dissidências, seja pelo tradicional patrulhamento ideológico, seja pelo uso do poder econômico decorrente do poder político, chegando-se a um ponto onde as disputas eleitorais eram limitadas à escolha entre candidatos mais ou menos esquerdistas.
Quando o cenário parecia irreversível, o impeachment e as eleições de 2018 sinalizaram uma mudança de direção. Contudo, como os artigos encartados no livro param em 2014, não há nele análise sobre as manifestações de 2015, o impeachment e a eleição de Jair Bolsonaro.
Um livro fundamental para se entender o momento político brasileiro e mundial, e que mostra a força do pensamento de Olavo de Carvalho, cuja influência em uma nova geração de políticos, historiadores e cidadãos realmente é impressionante.
Ricardo Peake Braga, para Vida Destra, 25/5/2020.
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Parabéns pelo artigo, amigo!
Parabéns pelo artigo, bem esclarecedor e objetivo.