Quando criança, ele costumava ouvir seus avós e outros idosos conversando por longas horas sentados em cadeiras de balanço, rodeados de crianças que vinham das casas das ruas vizinhas. Era uma festa ouvir tantas histórias. Não havia luz, nem asfalto. Por vezes, os primos se juntavam numa caçada incansável aos vagalumes nas noites quentes de verão, ou se reuniam próximos a grandes fogueiras, com batata doce e milho assando no meio das labaredas fumegantes.
Ao som de gargalhadas e o estalar da madeira queimando o pequeno garoto tentava aprender tudo o que podia. Ele não tinha o pai, morrera acometido de peste quando o menino ainda era pequeno. Então, aprendeu desde cedo que era o homem da casa.
Sua mãe estava sempre lidando na roça e juntando os trocadinhos para comprar os suprimentos para a família. Eram muito pobres, mas, como dizia a mãe: “Somos ricos porque temos nossa família unida e todos temos o nome limpo.” Seja lá o que quer que isso significasse, levou o aprendiz a se perguntar, em sua inocência, como alguém poderia ter o ‘nome sujo’? Será que algumas pessoas tem nome de ‘palavrão’? Ele aprendera que quem fala palavrão, tem a boca suja…então…só podia ser isso.
Certo dia, a mãe o mandou comprar algumas coisas na mercearia. Era um pouco longe e ele nunca tinha ido sozinho. Então perguntou:
“Mas, mãe, cadê o dinheiro?”
Ela deu uma lista de compras, uma sacola de estopa e simplesmente disse:
“Entrega a lista ao vendedor e fala que é pra anotar no nome da dona Chica. Se ele perguntar quem é você, diga que é neto do seu Bigode”.
O menino pensou por um instante e mesmo sem entender muito bem, foi-se caminho afora…
Quando chegou na vendinha, entregou a lista e seguiu as recomendações da mãe.
Parecia mágica. O vendedor, alguém com quem ele nunca tinha falado, sorriu e separou toda a mercadoria. Ao entregar a escola ao garoto, perguntou:
‘Como está seu avô, ele melhorou?’
O garoto boquiaberto apenas afirmou com a cabeça. Como ele podia saber quem era seu avô e que ele estivera doente? Voltou encucado. Só de falar o nome de seu avô, as coisas se resolviam.
A pergunta nao saía de sua cabeça quente pelo calor do sol. “Que história era essa de ter o nome limpo”?
Na volta pra casa, começou a pensar no nome de todas as pessoas que conhecia, pra tentar descobrir se alguém tinha o nome sujo…
“Será que isso é possível? Por que os pais, então, não pensaram antes de dar um nome sujo a seus filhos? Adulto faz umas coisas estranhas” matutava..
Continua..