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O Homeschooling NÃO está livre das amarras do Estado

O que é preciso saber sobre a regulação estatal do homeschooling

 

Nesta segunda parte de meu artigo de opinião sobre o PL 3179/2012 (a primeira parte pode ser lida aqui), gostaria de me ater somente a um aspecto específico da prática de homeschooling.

Como tivemos a oportunidade de discutir no último programa Sexta Destra (link para o programa aqui), a prática de educação familiar está tirando o sono da esquerda no Brasil. Aparentemente, a hegemonia na educação como antro de doutrinação política está ameaçada. Porém, farei algumas considerações importantes a respeito das amarras estatais que ainda permanecerão sobre a educação, mesmo que ela seja ministrada sob a supervisão e seletividade das famílias.

Primeiro, o Estado será o determinador dos conteúdos a serem ministrados, mesmo em homeschooling. Ao que parece, a aprovação definitiva no Senado caminha para uma revisão e abertura para futura regulamentação de conteúdos e avaliação. Trocando em miúdos, a canalhice infinita de deputados e senadores faz com que você, que deseja educar seus filhos sem que os tentáculos do Estado o estejam ameaçando, tenha que seguir diretrizes estatais, mesmo optando por ficar longe da falida e aparelhada BNCC.

Tudo indica que a esquerda se preparou para a derrota e deixou suas marcas neste PL, que nem de longe preserva a liberdade e o direito de educarmos nossos filhos sem que a ideologia de esquerda esteja lá, insistindo em convencer as crianças de que não existe somente homem e mulher e que o sexo não é um fator biológico determinante e, sim, uma “construção social”. Aliás, a tal “socialização” que o maldito canalha Paulo Freire implantou no Brasil, por meio do igualmente nefasto socioconstrutivismo, tem sido uma preocupação da esquerda, como se a escola fosse o único ambiente em que a criança pudesse estabelecer relações sociais. Portanto, é de se assustar que mesmo que possamos cuidar da educação de nossos filhos, o Estado ainda insista e permaneça como intermediador do processo.

Em 2017, recebi com muita desconfiança a aprovação da BNCC[1], principalmente por causa da pressa e do desespero que a esquerda mostrava em aprovar rapidamente, antes da eleição de 2018, parecendo prever o “acidente de percurso” chamado Jair Bolsonaro. A aprovação do tal documento seria a garantia da hegemonia da esquerda na educação, por meio do currículo. As aprendizagens essenciais, que a definição da BNCC em seu próprio site cita, são as pautas definidas pela maioria militante de “especialistas” socioconstrutivistas, que, entre outras aberrações, universaliza os conteúdos por série/nível de ensino. Em resumo, um aluno de uma região mais pobre do Brasil que se mude para outra região chegaria em outra escola e continuaria estudando exatamente o mesmo conteúdo que estava estudando na antiga escola, como se fosse simples assim. Imagine qual seria o nível de sincronização necessária para que isso acontecesse, ao mesmo tempo, em todas as escolas do país.

Além desses problemas fáceis de detectar, a BNCC carrega consigo aquilo que eu considero o pior que se pode esperar de um sistema educacional: o aparelhamento ideológico. Sabemos que as pautas ambientais, de minorias étnicas e de unilateralidade histórica são usadas há décadas, exaustivamente, para fazer lavagem cerebral nas gerações. Veja, na íntegra, algumas pautas que são de ensino obrigatório nas escolas brasileiras:

Um dos objetivos de conhecimento de língua portuguesa do 5º ano do ensino fundamental exige:

“(EF15LP01X) Identificar a função social de textos que circulam em campos da vida social dos quais participa cotidianamente (a casa, a rua, a comunidade, a escola) e nas mídias impressa, de massa e digital, reconhecendo para que foram produzidos, onde circulam, quem os produziu e a quem se destinam e a sua importância no meio/vida social.”

Aparentemente, nada demais. Porém, observe que a “identificação da função social” é subjetiva, assim como a própria expressão.  Aqui temos uma abertura à possibilidade de que a sala de aula seja usada para proselitismo político, já que os veículos de imprensa mais disseminados em sala de aula são alguns como Folha de São Paulo, G1, UOL etc. Assim, a criança pode ser facilmente condicionada a aprender que a verdade e a realização correta da tal “função social” estão nas mãos de tais veículos da velha mídia. É, basicamente, ensinar que a velha mídia é a única dona da verdade. Algo semelhante a um tal PL das fake news? Parece até que previram que seria necessário fazer isso no futuro.

Isso é só um dos objetivos de conhecimento, das centenas que estão presentes na BNCC.

No componente curricular Arte, do 5º ano do ensino fundamental – que, na minha opinião, é completamente inútil em escolas[2] –, os bimestres letivos são tomados por excesso de abstração e proselitismo de minorias étnicas, os quais se tornam conteúdos maçantes e desnecessários, dadas as demais oportunidades de se aprender artes em outros ambientes.

Outro componente absolutamente desnecessário é o ensino religioso, que é usado basicamente para enfatizar diversidade religiosa, dando protagonismo a religiões de matriz africana, indígena e demais religiões politeístas; conteúdos estes que não promovem nada a não ser confusão no entendimento das crianças sobre espiritualidade. Aparentemente, o objetivo é que as crianças deixem de crer naquilo que foram ensinadas a crer, por conhecerem “outras opções”. Isso lhe parece algo familiar ao que a esquerda defende?

Apesar de termos muitas referências de aparelhamento da BNCC, sinto-me na obrigação de fazer apenas mais uma observação aqui. Veja em geografia, para a mesma série acima. Estuda-se:

“(EF05GE05) Identificar e comparar as mudanças dos tipos de trabalho e desenvolvimento tecnológico na agropecuária, na indústria, no comércio e nos serviços.”

Repare que os ataques ao agronegócio serão respaldados por uma geração que estude assim. Inclusive, é comum que os livros tratem a evolução tecnológica no campo como fator gerador de desemprego, numa clara tentativa de atacar o desenvolvimento dos meios de produção e até mesmo a propriedade privada, utilizando-se de termos como “latifúndio” ou “função social da propriedade privada”.

“Grupos étnicos e étnicos-culturais (quilombolas, indígenas e populações tradicionais), condições de vida (saúde, educação, emprego, moradia).”

Na geografia do 5º ano há espaço para aprender tudo, menos cartografia ou tipos de mapas.

Lembrando que o que estou relatando aqui é só um grão de areia na ponta do iceberg.

Veja em história, ainda para a mesma série:

“(EF05HI05X) Associar o conceito de cidadania à conquista de direitos dos povos e das sociedades, compreendendo-o como conquista histórica, contextualizando com a história recente do Brasil.”

Alguém duvida que um professor doutrinador vá “deitar e rolar” ensinando sobre o golpe disso ou a ditadura daquilo? O mesmo documento do componente história exige o ensino que leve o aluno a compreender aspectos da “cidadania, diversidade cultural e respeito às diferenças sociais, culturais e históricas”. Mais uma chance para ensinar que a atual sociedade tem uma “dívida histórica” com os povos escravizados nos séculos passados.

Este espaço seria pequeno para falarmos sobre tudo o que há de ruim em um currículo disciplinar unificado. É difícil dizer em um artigo de opinião o tanto de doutrinação ideológica contida na BNCC. O importante é ficarmos atentos ao que está por vir, pois a aprovação do PL 3179/2012 ainda não representa uma vitória sobre o aparelhamento estatal da educação.

Fique atento. A esquerda ainda está presente naquilo que seus filhos terão que aprender. Cuide para que seus filhos estejam atentos ao que as provas escritas exigirão e o que suas mentes deverão compreender. Faça como o Pastor Jeferson Lima da Rocha, da Igreja Presbiteriana do bairro Independência, em Belo Horizonte, Minas Gerais. Ele teve o cuidado de educar as filhas, e isso trouxe um nível de entendimento muito interessante à sua filha mais velha, Ludmila. Em uma avaliação, onde lhe foi perguntado como teria surgido o universo, ela respondeu algo semelhante ao que se segue: “ Meu livro ensina que o universo surgiu espontaneamente, por meio de uma explosão que dão o nome de Big Bang, no entanto, eu creio na Bíblia como verdade suprema, que diz que Deus criou todo o universo, e não acredito que todas as coisas tenham surgido assim, espontaneamente”.

O homeschooling é a chance de termos controle sobre o que é ensinado. Devemos fazer com ele aquilo que fazemos com os youtubers influenciadores de crianças, os quais filtramos em nossos lares e não permitimos más influências de alguns deles a nossos filhos. Assim deve-se agir com os conteúdos obrigatórios; não deixar que eles se tornem a única via de crença ou de verdade para as crianças.

Precisamos aguardar as cenas dos próximos capítulos. O fato é que, seja como for, o homeschooling é a única alternativa segura contra a doutrinação sofrida nas escolas.

 

Notas:

[1] No site da própria BNCC, ela é definida como: ”(…) um documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica.”

[2] Compreendo que existe importância nas artes clássicas, mas discordo que Arte deva ser componente curricular. Para estudar as artes, existem inúmeras fontes e locais. Ocupar o tempo de sala de aula com excesso de abstração e proselitismo artístico é perda de tempo.

 

 

Davidson Oliveira, para Vida Destra, 02/06/2022.
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Professor de Educação básica-ensino fundamental, séries iniciais. Pós graduado em Orientação Escolar, Supervisão Escolar e Psicopedagogia pela Faculdade Castelo Branco-NUPOEX-Colatina-ES. Autor dos livros “Reflexões Sobre Educação e Controle Social”, “Professores do Acaso” e “ A Farsa Paulo Freire e a Decadência da Educação Brasileira”.