Muita gente ficou bastante preocupada com o conteúdo das mensagens de whatsaap que o ex-ministro Moro divulgou na TV – e para cúmulo da desfaçatez, na Globo. Positivamente, deu uma de “Verdevaldo”!

Mas analisadas essas “mensagens” do whatsapp de Moro, verifica-se que NÃO provam nada contra o Presidente. Nenhum crime de responsabilidade, como querem fazer crer. Bolsonaro tenta convencer Moro a trocar o Diretor-Geral da Polícia Federal, Valeixo, por outro nome, e parece que haviam conversado sobre o assunto antes, mas sem chegar a um denominador comum. Uma conversa de trabalho, ambiente político, nesse trecho da “bombástica” matéria do Jornal Nacional.

Em seguida, as mensagens de Carla Zambelli são outro furo n’água – mostram que Bolsonaro NÃO PROMETEU cargo algum a Moro, mas que este bem o queria, tanto que deu de raposa diante das uvas verdes, dizendo que “não estava à venda”. Frase calculada, a meu ver, para causar efeito. Quiçá, premeditada, porque isso se deu na noite anterior à manhã de seu pedido de demissão perante a imprensa.

Ocorre que dois Senadores, Contarato e Randolfe, entraram com um pedido de impeachment de Bolsonaro, por “influência política” na nomeação do Diretor-Geral da PF, como se este estivesse “passando por cima de Moro”.

Ridículo.

Ocorre que, por lei (art. 2-C da Lei 13.047/14) essa prerrogativa (nomeação do Diretor-Geral da PF) é do Presidente da República! Nem consigo entender, por que tanto melindre com Moro? Bolsonaro deveria ter dito “nomeia este cara, e cumpra-se!”. A hierarquia é Presidente acima e abaixo o Ministro, ora! A caneta era de Bolsonaro!

Daí, Moro ficou “chateadinho”, e no dia seguinte, fez um pedido de demissão escandaloso perante a imprensa, sem avisar previamente ao Presidente. Estarrecedor! Qualquer empregado, ou empregador, sabe que não se encerram contratos de trabalho, nem de prestação de serviços, aliás, não se encerram relações jurídicas sem que haja comunicação prévia de uma à outra parte!

Imagine qualquer um dos leitores que seja colocado dentro de uma empresa, conseguindo um emprego (coisa dificílima hoje, diga-se de passagem), e depois de algum tempo tenha que sair. Iria sair sem falar com a pessoa que o levou àquela empresa? Qualquer um com um mínimo de civilidade não faria uma deselegância, não cometeria um ato anti-ético tal. Mas elevem isso à potência de um homem público! Qualquer ato que ele pratique repercute profundamente na sociedade – tanto que dólar explodiu e Bolsa despencou com a grosseria do ex-ministro em demitir-se ao vivo, perante a imprensa (sórdida e moribunda) deste país!

E afinal, estava reclamando do quê? Que tiraram sua “carta-branca”? Ora, “carta-branca” a gente dá à pessoa em que depositamos confiança, até fazer alguma caca. Exatamente como se faz com filhos adolescentes. Pisou na bola, a gente tira essa confiança! Podem até dizer que foi rude, antiético, o escambau, por parte do Presidente, ter dado e depois retirado. Mas não foi ilegal, e não há crime de responsabilidade aí, como pensam os dois desorientados Senadores.

Outros amigos nas redes sociais ainda apontaram que Joice Hasselmann também entrara com pedido de impeachment de Bolsonaro, por um “motivo muito mais grave” – qual seja, falsidade ideológica, dado que Moro não reconhecera sua assinatura digital no ato de exoneração de Valeixo, que fora publicado no Diário Oficial da União.

Piorou. A assinatura digital conferida pelo Serpro aos Ministros e demais servidores públicos é pessoal e INTRANSFERÍVEL – e isso está no termo de concessão, que Moro assinou.

O referido despacho saiu do gabinete do Presidente (onde geralmente eles se originam), passou pelo Gabinete do Ministro da Justiça e depois chegou ao DOU, onde foi publicado. Em algum ponto desse itinerário, inseriram a assinatura do Moro, que ele diz não lembrar de ter assinado.

Mas isso significa que ELE, Moro, concedeu essa senha (pessoal e intransferível) a alguém. Geralmente, se trata de um “token” (um pendrive). Com certeza, esse “token” não fica com Bolsonaro, muito menos com alguém no gabinete da Presidência! Muito provavelmente ficou com algum funcionário do Gabinete do Ministério da Justiça, em quem Moro deposita essa confiança, que então inseriu a assinatura, quando viu a publicação – porque esse é o trabalho do cara! Ou seja, se Moro insistir nessa história bisonha, que a Joice encampou de modo açodado (para variar), vai prejudicar um dos servidores públicos próximos a ele. Diga-se, também, que há responsabilidade do usuário da senha com essa pessoalidade intransferível, sob pena de responsabilidade, já que no termo de concessão desse “token” ele assinou isso – destaque-se: Moro assinou um termo de responsabilidade! Se bufar mais, vai acabar se complicando, também, porque a PGR vai querer saber por que ele deu a senha para um funcionário, e qual!

Entretanto, fica uma pergunta no ar: por que cargas d’água Moro tomou tão intempestiva atitude, demitir-se perante a imprensa (sórdida e moribunda) deste país?

Ele tinha em vista um cargo no STF, o que é de conhecimento público. Estava cumprindo seu papel no Ministério da Justiça. Por que sairia de lá para lugar nenhum, já que indisposto com o Presidente, por certo não será mais indicado para a Suprema Corte?

Porque o antagonismo político agora se estabeleceu entre Bolsonaro e Moro, agora – e tenho para mim que daqui para diante, na verdade. Quem poderia ter insuflado isso no ex-ministro? Muitos disseram: o DEM, o pessoal dos Democratas o quer como candidato a Presidente ou Vice em 2.022. Não acho que Moro escolhesse o DEM, mas sei pelo histórico dele que tem algum trânsito com os sociais-democratas. Ora, por óbvio ele bateu em revoada do atual Governo e vai-se aninhar na rua dos Tucanos, nº 45, lançando-se candidato em 2.022!

Surgiu então a 3ª via política no Brasil, neste momento: o candidato bonito, cheirosinho, arrumadinho e elegante que agrada sobremaneira ao PSDB (que revive o partido, diga-se mais!), e que é bastante palatável para boa parte do Centrão e do Centro-Direita atuais!

Porém, isso significa mais: Lula está no escanteio político total, e sua situação jurídica vai complicar.

Gilmar Mendes está com a exceção de suspeição do ex-ministro – o que pode anular os processos em que Moro atuou contra o presidiário, como o do triplex do Guarujá. Entretanto, mesmo que seja anulado esse processo do triplex, ainda tem o sítio de Atibaia (agora no TRF-4), o do Instituto Lula (em Curitiba), o do Quadrilhão do PT (em Brasília), o das propinas da Odebrecht em Angola (em Brasília), o das MPs das montadoras (em Brasília), o das propinas nos caças Gripen (também em Brasília) e o das propinas da empresa ARG na Guiné Equatorial (em São Paulo). Por óbvio, Moro não atuou nos processos fora de Curitiba, e o do Instituto Lula sequer teve sentença – portanto, não deve ser anulado. Ou seja, até 2.022, Lula ainda vai tomar mais condenações e será inelegível.

Mas não somente. Com Moro fora do Governo, a tese da “suspeição” do ex-ministro perde muito a força, torna-se inverossímil, aliás. Mesmo que Gilmar Mendes faça uma tremenda ginástica jurídica para caracterizar essa suspeita contra Moro, não creio que os outros Ministros da 2ª Turma o sigam – Celso de Mello, Lewandowski, Fachin e Carmen Lúcia. Até porque Marco Aurélio Mello (de outra turma, mas antes avesso a Moro) já teceu loas à “heroica demissão” do ex-ministro, ou seja, o STF o está vendo com outros olhos, agora.

E também porque agora o ninho tucano vai protegê-lo e usará de toda influência para que ele não seja declarado suspeito! Não querer perder o potencial melhor candidato que a legenda tem desde FHC por causa de uma suspeitinha, não é?

Vejam, Moro saiu atirando – e estabelecendo antagonismo político com Bolsonaro, como eu disse antes. Com tabuleiro político indicando contraposição Moro-Bolsonaro, em 2.022, se houver um 2º turno, podem apostar que será entre Moro e Bolsonaro!

Então, Lula se deu mal politicamente, também, eis que Moro tende a crescer, enquanto Lula ainda tem condenações a vir e não deve mais ser declarada a suspeição de Moro, sequer poderá se candidatar – e nem tem um “poste” certo para 2.022, supõe-se Haddad. Coitado…

Então, pela ação de uma “mão providencial” do Destino, tenho para mim, amigos leitores, que as eleições de 2.022 serão MUITO mais civilizadas e urbanas que as anteriores. Uma tremenda evolução, política e social, neste país, vinda aos trancos e barrancos – mas bem vinda!

Fábio Talhari, para Vida Destra, 25/4/2.020.

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