À medida que as margens de atuação e argumentação da esquerda vão ficando mais estreitas, seus sectários vão ficando mais violentos e ofensivos. A cada vez que fracassam em um factoide, gritam mais alto e elevam a aposta, até se descolar da realidade.

Desde o período eleitoral, foram várias as tentativas da esquerda de causar comoção popular. Todas fracassadas.

De memória, lembro as suásticas pichadas em igrejas. Nunca se soube a autoria, mas terminada a eleição, simplesmente sumiram. Mais grave e comovente foi a suástica na barriga de uma adolescente, obviamente com problemas psicológicos, que foi usada durante certo tempo e depois descartada, quando ficou evidente que os ferimentos foram auto infligidos.

Mais tarde, às vésperas do escrutínio, houve o alarde de uma “virada” de Haddad. Não se concretizou. Bolsonaro foi eleito.

Em seguida, as acusações sobre mensagens promovidas no WhatsApp. Outro furo n’água. As provas e evidências apontavam que não houve esquema algum.

Visto não terem conseguido atingir o Presidente eleito, atacaram pelas beiradas, tentando implicar seu filho, Flávio, em alguma ilegalidade. Até o presente momento, nada ficou demonstrado. Mas restou um mantra, que a esquerda repete sempre que é frustrada em seus ataques: “Queiroz, Queiroz”…

A última (e também fracassada) tentativa de desestabilizar o atual Governo foi o ataque à Lavajato e à pessoa de Sérgio Moro, com as mensagens hackeadas, de forma criminosa, e divulgadas por Greenwald, de modo sensacionalista.

Só que esse ataque, que foi denominado “Vazajato” nas redes sociais, não foi só um furo n’água. Foi um imenso erro estratégico, um tiro pela culatra.

Todo esquerdista se considera um “herói”, uma pessoa que luta “pelos mais pobres”, “pela igualdade”. Já se verificou essa mesma conduta, na História, mais de uma vez, geralmente com um saldo de vítimas assustador. Nela reside o maquiavelismo do esquerdista: sob um “objetivo nobre”, todo e qualquer meio é justificado, inclusive a violência e o crime. Agem como se tivessem um “habeas corpus” preventivo para qualquer comportamento antiético, violento e/ou criminoso. Mas o raciocínio de Maquiavel, “os fins justificam os meios”, tem uma falha lógica fundamental: nós NÃO vivemos os fins, vivemos os meios. Não interessa a pretensão do ato, importa o que foi feito. Somos conhecidos e julgados, social, moral e judicialmente pelo que fazemos, pelos fatos que produzimos ou participamos, não pelo que pretendíamos. Nesse sentido, vale a pena lembrar do brilhante voto do Desembargador Victor Laus, no processo de Lula, em janeiro de 2018: “Não estaremos julgando as pessoas, mas os fatos que de alguma forma elas se envolveram”.

Daí que não importa se Lula é “um homem bom”. Não adianta invocar Rousseau, e “o bom selvagem”. O fato de ser carismático, de ter realizado um governo visando distribuição de renda, não o isenta dos crimes que cometeu. Não há “salvo conduto” para o agente delituoso que é popular. Sabendo disso, Lula e seus correligionários tentam, há tempos, transformar os processos judiciais em uma questão política, para então conseguir a liberdade do homem que é o maior símbolo do PT. É uma argumentação romântica, surte efeito nos corações de idealistas, mas não corresponde à realidade. Na verdade, a contraria. A falha na ideia central de Rousseau é atribuir um julgamento moral ao Homem (espécie, não gênero, ok, patrulheiros de plantão?), “todo homem é bom em seu estado natural, mas a sociedade os agrilhoa (e os corrompe)”. Na realidade o Homem não é originalmente bom ou mau, mas cada um age de acordo com a melhor defesa de seus interesses. Alguns têm nobreza, outros (os maquiavélicos) não hesitam em lançar mão de vilezas. Houve até quem tentou mensurar isso, Steven D. Levitt. Concluiu (arredondei os valores) que cerca de 15% da Humanidade é boa, tem um “bom coração”, age com probidade, retidão e nobreza. Outros 15% agem de forma egoísta, maquiavélica. E 70% variam, de acordo com seus interesses imediatos e a possibilidade de serem pegos fazendo algo errado…

Na esteira do pensamento de Rousseau, veio Marx e o Manifesto Comunista, em 1848. No fim do panfleto, disse: “Trabalhadores, uni-vos, vocês só têm a perder seus grilhões”. Era uma remissão direta ao “Contrato Social” de Rousseau. A primeira falha no pensamento de Marx é adotar o julgamento moral de Rousseau, considerando o “pobre” como eticamente superior ao “rico”. A segunda é ignorar o capital, considerando que apenas o trabalho é o fundamento de toda produção (e de todo valor). E a terceira é ignorar a contraposição lógica entre liberdade e igualdade – total liberdade afasta a igualdade, e total igualdade afasta a liberdade. Em última análise, o Homem preza muito mais pela própria liberdade do que pelo ideal da igualdade (por exemplo, as fugas em massa da Alemanha Oriental para a Ocidental, até a construção do Muro de Berlim).

Esses grupos não tomam decisões com base em fundamentos lógicos e racionais, mas com premissas sentimentais, emocionais. Compartilham uma espécie de “fé”, que norteia seus atos A partir do momento em que se reconhecem como grupo, sentem suas responsabilidades individuais diluídas e estabelecem identificação com os demais elementos daquele grupo, e apenas com ele. Isso sempre foi assim, ao longo da recente História do Brasil. Para facilitar a redação, vamos denominar o segmento todo como “grupo MRM”.

Então, na sua fúria fanática, ansiosa por tirar Lula da cadeia de qualquer forma, o grupo MRM atacou o Ministro da Justiça. E quem é? Nascido em 1972, leonino de 1º de agosto, Sérgio Moro é uma pessoa discreta, que enquanto juiz trabalhava com afinco e método, em busca de resultados. Sempre de hábitos modestos, ia ao Fórum de bicicleta e almoçava em sua casa ou no “bandejão” da Justiça Federal. Caseiro, leitor voraz de biografias, estudou a fundo a Operação Mãos Limpas na Itália, sob o comando do juiz Giovanni Falcone. Apresenta a conduta reta e simples das pessoas probas, que ensinam pelo exemplo. Nunca foi visto gritando, levantando a voz, usando palavras de baixo calão ou assacando injúrias contra eventuais adversários. Não é preciso ser muito perceptivo para saber que se trata de um homem íntegro, probo e justo.

Seguindo a cartilha que Berlusconi usou na Itália para dizimar a Operação Mãos Limpas, a trupe de fanáticos MRM lançou mão do sensacionalismo em cima de vazamentos criminosos de mensagens, que ainda foram adulteradas, para tentar causar comoção popular e afetar a imagem de Sérgio Moro. Suponho que mesmo dentro do partido máximo do grupo MRM houve vozes que alertaram que atacar o homem probo, que goza de credibilidade e amplo apoio popular, seria uma estratégia arriscada. E foi o que aconteceu: a par das mensagens terem sido hackeadas de forma criminosa, de serem adulteradas para causar estardalhaço, seu conteúdo, a bem da verdade, não tinha nada de explosivo. Não houve crime algum cometido por Sérgio Moro, sequer se pode dizer que houve qualquer suspeição do ponto de vista jurídico: conversas amistosas entre juízes, procuradores e advogados são corriqueiras no ambiente judicial. Ocorre que os advogados de Lula sempre optaram pelo caminho da beligerância em face de todos os juízes que conduziram os casos da Lavajato (não apenas contra Moro, é bom que se destaque isso). Não agem com lisura, apenas usam da gritaria. Bom, na verdade, não se pode dizer que sejam bons advogados…

Os hackers foram presos, como é de ciência pública. Imediatamente, implicaram Manuela D’Ávila, nada mais, nada menos, que a candidata à Vice-presidência da República na chapa do grupo MRM. Que, por uma sorte do destino, estava viajando no momento em que os criminosos foram presos (e eu não tenho mais idade para acreditar em coincidências dessas). A mesma Manuela que teve sucessivos contatos telefônicos com Adélio Bispo, e que agora está “fazendo um curso” na Europa, e tem mantido silêncio nos últimos dias. Há pontas soltas nesse caso: Manuela, Greenwald, Adélio, os hackers… a se supor uma ligação entre todos, como um brilhante jornalista elucidou, estamos diante da ponta de uma meada bem semelhante àquela que deu início à Lavajato. Todos queremos saber mais.

Mas o sistema pútrido que toma conta de boa parte do poder aqui no Brasil reagiu. O grupo MRM, vendo que o ataque contra Sérgio Moro, por conta das mensagens, deu muito errado, na verdade está saindo pela culatra, tentou um novo ataque, acusando Moro de ter sonegado dinheiro recebido por palestras. O Ministro, novamente dando provas de sua integridade, apresentou o recibo referente à palestra, que demonstrou mais: o dinheiro foi declarado (nenhuma sonegação, portanto) e doado à caridade… O episódio todo é de um ridículo grotesco: não se pode medir o homem íntegro pela régua da improbidade! Porém, para surpresa geral (em especial deste que vos escreve), essa súcia ainda quer uma investigação contra o Ministro, pela sonegação, que já foi comprovada inexistente. Pois bem, que investiguem. Ao final, o caso se torna calúnia, e a “bomba” detona na cara daqueles que a armaram.

Entretanto, o órgão supremo do Poder Judiciário brasileiro entra na história. Saindo do recesso do meio do ano, imediatamente ao retornar, seus Ministros expediram mandados e tomaram decisões que dificultam o prosseguimento das investigações da Lavajato, reivindicaram que as provas fossem remetidas para o Tribunal no Greengate e ainda proibiram que órgãos da Receita Federal investigassem quaisquer dos mesmos Ministros. Em paralelo ao que fez Alfredo Biondi, Ministro da Justiça de Silvio Berlusconi na Itália, “restauram” privilégios próprios. E nisso, claro, têm o apoio do grupo MRM, por óbvio, como Berlusconi e Biondi tiveram dos partidos de esquerda e centro-esquerda na Itália, na sanha de acabar com a luta contra a corrupção.

Ora, postar-se contra a luta contra a corrupção é indício de que se está favorável à preservação da corrupção. É lógica simples. Na Itália, os corruptos venceram. Aqui no Brasil, estamos chegando em uma encruzilhada perigosa, na qual há fortes sinais de confronto entre aqueles que querem um país melhor, limpo, sem corrupção e aqueles que querem preservar seus privilégios, continuarem corruptos, retornar ao poder e (pasmem!) “manter o direito” de cometer crimes.

Quo vadis, Brasil?

Fábio Talhari
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Luciana Ribeiro
Luciana Ribeiro
4 anos atrás

Admiro o jeito desembaraçado que escreves seus artigos, além de nos prender na leitura do começo ao fim, pela coerência pretendo ler todos os outros que virão. Fico no aguardo . Sucesso !

Sander R. Souza
Editor
4 anos atrás

Gostei muito do texto, claro e objetivo!