Há dois anos como presidente, Bolsonaro está sobrevivendo contra todas as expectativas e iniciativas dos adversários. Sofreu permanente e brutal assédio dos Poderes Legislativo e Judiciário, de governadores e prefeitos, da imprensa nacional e estrangeira, de organismos internacionais e de chefes de Estado estrangeiros, tudo criteriosamente coordenado. Destes emanaram, diuturnamente, as mais diversas inconstitucionalidades na forma de invasão e usurpação de competências, investigações criminais sem provas, acusações infundadas, mentiras e distorções fáticas.
Entretanto, e apesar de tudo, o Presidente continua mantendo apoio popular semelhante ao que o elegeu, talvez até maior, se considerada a tendenciosidade dos órgãos de pesquisa que sempre erram, grosseiramente, para o lado esquerdista.
Mas qual seria a explicação para essa sobrevivência?
Entendo que a resposta depende do processo histórico iniciado com a Nova República, da cultura conservadora do povo brasileiro, do discurso e das práticas de Bolsonaro plenamente aderentes a essa cultura, bem como da democratização da informação pelas redes sociais.
Em 1985, se finda o Regime Militar e inicia-se a Nova República, o que viabilizou a uma casta comuno-cleptocrata se apoderar do Estado brasileiro. Configurou-se um sistema corrupto – Presidencialismo de Coalisão – pelo qual um presidente só governa e tem aliados, se pagar. Congresso e STF se dissociaram da sociedade. A Esquerda aparelhou o Estado e se utilizou da corrupção para impor sua agenda politicamente correta. Também aparelhada foi a imprensa que, por depender de patrocínio financeiro governamental, configurou-se num Quarto Poder, plenamente integrado e sinérgico ao sistema corrupto em vigor, e encarregado da modelagem ideológica da sociedade.
Entretanto, e contrariamente ao que a Esquerda tenta impor, o Brasil é um país conservador. Sua sociedade nunca pediu para discutir, nem aceita, a descriminalização de drogas, aborto e pedofilia; a ideologia de gênero e o desarmamento. Também não aceita ataques contra a família e o Cristianismo, além de discordar das proibições de ensino e símbolos religiosos nas escolas. Tampouco, aceita que esfreguem imagens cristãs em genitálias ou satirizem Cristo em peças teatrais, quadros ou manifestações de rua. Em termos econômicos, os brasileiros defendem o livre mercado e a propriedade privada. Em termos políticos, que a vontade da maioria prevaleça sobre a da minoria, com o devido respeito aos direitos humanos desta, mas não o contrário.
Porém, nesse processo dialético entre o sistema comuno-cleptocrático e o povo brasileiro, a vantagem em favor do primeiro predominou por muito tempo, pois concentrava o poder econômico, político, judicial e da informação. Ganhava eleições quem possuía tempo de propaganda e dinheiro para campanha. Corrupto não ia para a cadeia nem perdia o fruto do assalto aos cofres públicos.
Entretanto, surgiram as redes sociais e se findou o monopólio da informação. Cada cidadão adquiriu a possibilidade de falar e ouvir o quê, quando, onde e como quiser, para quem desejar. As mentiras passaram a ter vida curtíssima e seus autores a perder máscaras e credibilidade. Os políticos que, pelas ideias e/ou falta de dinheiro, não tinham espaço na mídia, além de não poderem se defender de ataques recebidos, passaram a falar diretamente com seus eleitores. A comunicação social se transformou radicalmente no sentido da democratização e da livre expressão, por abrir oportunidades iguais para todos, sem depender da mídia tradicional.
A balança do poder, portanto, começou a pender em favor do povo, com prejuízo para a comuno-cleptocracia que não se apercebeu de imediato. O impeachment de Dilma dificilmente ocorreria sem as redes sociais, bem como a operação Lava-Jato. Os ataques esquerdistas contra os costumes conservadores não teriam resposta na imprensa, pois ela os promovia e apoiava. Ou seja, as redes sociais viabilizaram a reação popular contra a tirania disfarçada.
Nesse contexto, surge o candidato Bolsonaro, cujas ideias e práticas sempre foram conservadoras e anticorrupção, aderentes, portanto, ao pensamento e à vontade majoritários e prevalentes na sociedade brasileira. Antes dos demais políticos, identificou as potencialidades das redes e passou a utilizá-las intensamente, enquanto aqueles continuaram apostando nos fundos partidários, nos caixa-dois, nos tempos de propaganda eleitoral gratuita, nas pesquisas viciadas e na intensa campanha difamatória, caluniosa e injuriosa contra ele disseminada.
Mas, para surpresa geral, ele venceu. Segundo adversários, devido à utilização de fake news e robôs. O TSE até hoje investiga sua chapa por isso e pode cassá-la. Mas o fato é que sua vitória se deu pelo conteúdo da mensagem e não pela técnica de utilização do canal de transmissão, no caso as redes sociais. O povo está cansado da tirania esquerdista e decidiu votar em alguém que se dispôs a recolocar o Brasil nos rumos da democracia, do conservadorismo, da ética e da decência. Foi isso que o elegeu.
O sistema, porém, desconsiderando a vontade popular expressa nas urnas, reagiu incrementando o massacre midiático ao qual se somaram ações no sentido de criminalizar e inviabilizar o governo, de forma a acabar com sua popularidade e criar condições para processos criminais e de impeachment, visando destituí-lo.
Essas ações foram se incrementando gradualmente, pois, ao invés de surtirem os efeitos pretendidos, aumentavam o apoio ao presidente. Num primeiro momento, se elevaram ao patamar das arbitrariedades policialescas, com prisões de jornalistas, censura nas redes, invasões de domicílios, inclusive de deputados, às escusas de fake news e atentados à democracia. Num segundo momento, devido à pandemia, galgou-se mais um degrau: o do caos institucional por impedirem o Executivo de comandar as ações emergenciais e depois o acusarem de inação. Tudo articulado por congressistas e imprensa junto ao STF, que protagonizou as inconstitucionalidades e assumiu a condição de Poder Moderador, se colocando acima dos demais Poderes. Suas decisões são inapeláveis e seus ministros inimputáveis. Eles ditam a verdade.
Entretanto, mesmo nesse ambiente deliberadamente nefasto e caótico, ficou evidente que a popularidade de Bolsonaro pouco variou, sendo que a de Congresso e STF despencou. Aos ataques e tentativas de destruição de imagem, ele respondia com sinceridade e no linguajar do povo, inclusive sem economizar palavrões, o que, apesar de discutível para um presidente, angaria simpatias. Adicionalmente, não se distanciou das promessas de campanha, como todos os políticos brasileiros sempre fizeram após serem eleitos. A realidade é que ele inspira confiança.
Vieram as eleições municipais em outubro/2020 e a Esquerda foi calcinada. Os votos se concentraram em partidos de centro. Analistas (sic) enxergaram uma fuga dos extremos. Entendo que foi por não haver um partido bolsonarista que levasse os votos do centro.
E, finalmente, em 1º de fevereiro de 2021, depois de dois anos imobilizando o Executivo, Rodrigo Maia e Alcolumbre foram substituídos por congressistas que, se não alinhados ao Presidente da República, aparentam não estar dispostos a impedi-lo de governar, como seus antecessores. Isso está sendo motivo de comemorações governistas e os discursos de ambas as partes parecem animadores.
Podemos, então, concluir que Bolsonaro será eleito em 2022 e sua possibilidade de sobreviver até lá está garantida?
Penso que não. O Brasil não vive uma normalidade institucional, mas um golpe disfarçado que se consolida gradualmente. O processo dialético entre o sistema comuno-cleptocrático e o povo brasileiro continua em franco desenvolvimento.
A seu favor, Bolsonaro tem: a) o apoio popular angariado por suas ideias conservadoras e fidelidade a elas no exercício do poder; b) a confiança que inspira sua personalidade combativa, desprendida e franca; c) as chaves do cofre para distribuir recursos em plena pandemia, o que traz apoio político; d) uma administração livre de corrupção institucional; e) resultados administrativos impactantes como entregas de obras inacabadas e diminuição de gastos públicos; f) o massacre midiático e o assédio institucional do Congresso e do Judiciário que, em função das redes sociais, são facilmente identificáveis como mentiras e perseguições, lhe rendendo mais apoio; g) as inconstitucionalidades praticadas por Congresso e STF, que apesar de inapeláveis, são obvias perante a população e sua desobediência teria amplo apoio popular; e h) a desaprovação popular do Congresso e STF.
Contra sua sobrevivência, o Presidente tem: a) o abuso de poder e invasões de competência, criminalização de atos administrativos e assédio a ministros por parte do Congresso e STF; b) processo contra sua chapa no TSE; c) censura às redes sociais e as prisões, buscas e apreensões contra jornalistas, ativistas e congressistas aliados; d) a impossibilidade de auditagem das urnas eletrônicas; e) o provável incremento do assédio de organismos internacionais e chefes de Estado após a eleição de Biden nos EUA; f) a determinação e o protagonismo, crescentes, demonstrado pelo STF e seus ministros em exercer o Poder Moderador e estabelecer a sua verdade, pela qual Bolsonaro é uma ameaça à democracia e perseguido por isso; e g) a narrativa de que Bolsonaro não aceitará o resultado das eleições em 2022 pelo fato de solicitar voto impresso.
Desenha-se, portanto, um quadro em que, além do massacre midiático e do assédio institucional e jurídico, sempre incrementais, as pesquisas passariam a detectar a perda de apoio popular a Bolsonaro. A imprensa potencializaria tudo e criaria um cenário fictício francamente desfavorável a ele, tendo por alvo a comunidade internacional. TSE e STF não permitiriam a implantação do voto impresso como instrumento de auditagem. O TSE contrataria, como já fez nas ultimas eleições municipais (2020), agências de checagem para monitorar fake news no processo eleitoral, abrindo espaço para a censura na campanha. E, ao final, Bolsonaro, mesmo com apoio popular, perderia a eleição e não teria a quem reclamar, além de haver condenação internacional a qualquer reação antidemocrática, a ser assim definida pelo Supremo Poder Moderador. É a mesma receita vitoriosa contra Trump sendo gestada por aqui.
A sobrevivência de Bolsonaro, portanto, dependerá de desmontar essa bomba relógio. Se assim não o fizer, além de perder as eleições, sofrerá, juntamente com familiares e colaboradores próximos, uma avalanche de processos e irão todos para a cadeia, pois a comuno-cleptocracia jamais permitirá que ele, ou alguém parecido, ressuscite para ameaçar-lhe a sobrevivência novamente.
E se Bolsonaro não sobreviver, o Brasil seguirá o caminho da Venezuela. A sorte está lançada e nosso destino será definido nos próximos dois anos.
Com a palavra Sua Excelência, o POVO BRASILEIRO!
Notas:
1-Enquanto eu escrevia este artigo (09/02/21), o STF autorizava a utilização de escutas ilegais pela defesa de Lula. E, nessa mesma noite, já foi publicada entrevista do ministro Edson Fachin pela Folha/Uol. Fica estabelecida uma versão falaciosa de que a Lava Jato não terminou e na sequência começam a falar de corrupção à democracia, defender o sistema eleitoral vigente – aquele sem auditagem – e dão uma deixa para questionar a possibilidade de Arthur Lira assumir a presidência por ser réu. Pelo tempo entre a sessão do STF e divulgação da entrevista, infere-se que foi feita antes do julgamento e que as perguntas foram combinadas. Isso vem ao encontro de meus argumentos pela existência de uma obstinada conspiração, expressos neste artigo. Não deixe de ler, pois demonstra a coordenação das ações entre os envolvidos.
2-Caso haja interesse do leitor, o detalhamento de alguns pontos de vista apresentados neste artigo pode ser encontrado aqui!
3-Todos os artigos por mim publicados no site Vida Destra poder ser acessados neste link.
Fábio Sahm Paggiaro, para Vida Destra, 11/02/2021. Sigam-me no Twitter! Vamos debater o tema! @FPaggiaro
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- A original Guerra da Ucrânia - 17 de março de 2022
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- Os destinos do Brasil nas mãos das Forças Armadas - 4 de agosto de 2021
Artigo elucidativo.
Perfeito nas colocações.
Grato, Nunes.
No irretocável artigo de @FPaggiato, urge a aprovação do voto auditável para que tenhamos o nosso Capitão até 2026.
Exato Santa Ritta. O voto auditável será o único instrumento capaz de impedir o “golpe branco” nas urnas eletrônicas.
Texto muito elucidativo. A luta é antiga e os velhos e amorais caciques não vão querer “largar o osso”.
Não vão largar. Teremos que tomar.
O eleitor, o apoiador de Bolsonaro precisa limpar as ideias, identificar o que é estratégico e focar nisso, os pontos que você desenhou com extrema clareza: a farsa da apuração das eleições e a censura descarada, escancarada, nas redes, pelos seus donos.
E se não jogar pesado, vai ser demitido exatamente como Trump foi.
Parabéns? ?
Grato, Gunter. Se não nos conscientizarmos disso e reagirmos, o filme do Trump passará por aqui.